08/12/2010

Trocando e miúdos.


Sabe do que mais?
Tenho o hábito de sumir, de não explicar, e de não falar nada.
Nunca tive problemas com isso, e me sentia bem assim..
Até ter vontade de falar, e sentir que já passei da hora.
Aí é que eu quero mesmo. Aparecer, falar, explicar.
E, meu amigo, quando eu explico. Explico tudo, tanto por tanto.
Troco em miúdos, graúdos e quantos mais você quiser!
Ontem mesmo, ele voltou a falar demais. Aquele tal de amiguinho que tem o hábito de ser nostálgico.
O das conversas sérias, sobre o que fizemos ou deixamos de fazer das nossas vidas.
Não tava com paciência pra muita embromação dessa vez, e pra duplos e triplos sentidos, complexos demais pro meu estado de espírito, então resumi tudo de forma sucinta:
'Ah, meu bem!
A gente toma consciência de que tudo é conseqüência, quando o tempo passa, e a gente vê que poderíamos ter feito diferente. Mas depois que já ta feito, nem saber que fez errado conserta nada, não é?'
Ele, riu. Não tinha o que falar. Eu tava coberta de razão, ele disse. E aquela razão que machuca, sabe?
É, as meninas sempre dizem que eu corto conversas de forma grosseira.
Nunca entendi o porquê. Mas sabe do que mais?
Nunca fez muita diferença saber o porquê de nada!
Porque então eu preciso me explicar, afinal?
Tá, já entendi. Eu sei que às vezes eu explico até demais. Mas entenda.
É só com o que eu acho quase completamente desnecessário.
Acredite!
Sempre me complico, quando preciso mesmo fazer alguém entender o que quer que seja.
Confundo completamente a todos, eu acho, inclusive a mim!
Mas sabe do que mais?
Ninguém nunca se esforça o bastante pra entender nada que não lhe salte aos olhos, e seja realmente do seu interesse.
Então, se quiser realmente que eu me esforce pra me fazer alguém compreensível.
Que antes de tudo se esforce pra me dar um bom motivo para tal!
Livre disso, continuo com meus maus hábitos, e se quiser saber mais..
Digo que não tenho tido problemas com isso, até então!
E isso me basta!

05/12/2010

Boomerangue.


...
Não sabia o que escrever, então comecei pelas reticências.
Não sabia o que falar, então me limitei aos vagos ‘ahan, eu entendo, amiga!’
Não sabia o que pensar, então eu.. éer.. Não pensei!
Falei tudo, de uma só vez, com garganta embolada e tudo mais!
Não me arrependo, porque sei onde joguei os meus quilos de receios contidos e quase controlados.
‘Mas entenda, amiga..’ - eu tentei dizer. – ‘Não é MEDO, desse jeito, em letras garrafais e perspectivas pavorosas de fracasso. Não é assim.. É só receio de estar vendo tudo pelo lado errado, sabe?’
E ela atacou: ‘Ah! Pra cima de mim, amiga? Você ta se fazendo de ingênua!’
E eu ri. Tive um acesso e ri descontroladamente.
Mas ela estava séria, e continuou a falar com a mesma máscara de serenidade:
‘Você ta vendo exatamente o que há pra ser visto e ta com medo, sim. Porque ta gostando do que vê. Pois saiba que eu to vendo a mesma coisa, estando de fora!’
E eu acho que eu fiquei feliz com isso. Com crise de riso e tudo!
Mas também com o tal ‘receio’ insistindo em acompanhar essa quase descontraída felicidade instantânea.
Dizem que eu tenho essa mania, né? Fazer o que?
O que eu fiz?
Fiquei martelando por horas, claro. Pensando em tudo o que já havia sido essa história, e se já não tinha sido tudo o que era pra ser.
E como um boomerangue, a lembrança voltava à memória por mais longe que fosse lançada. E junto, vinha a mesma conclusão de sempre nesse caso:
‘A mente não acompanha o corpo!’
Como não entendeu? Isso é tão óbvio! 
Pra ela era, - após ter me ouvido pacientemente por horas.
Ouvia atentamente, tudo sobre como o interesse em saber o que há por trás fora deixado de lado desde sempre, e em como os sentidos atentavam apenas para o que lhe parecia mais conveniente, como um imã, eu diria!
'Mas agora não, amiga!'
Os corpos nem se movem. A mente trabalha à frente de tudo, e trabalha sozinha.
Vai dando conta de se encantar com cada detalhe que lhe havia fugido há tempos atrás.
Penso em continuar a história de onde paramos, penso em por um ponto, uma vírgula.
Penso em passar a caneta e deixar que você continue, ou não.
Penso em parar de pensar, e voltar a usar as reticências que agora me parecem melhor companhia!  

20/11/2010

Entre mundos e fundos de salas.


Sentada, riscando garranchos itálicos.
Mão no queixo, fone de ouvidos e pronto.  OFF!
Ela desliga tudo e todos que estão à sua volta.
São todos barulhentos demais, e por mais que o tempo passe não deixam de olha –  la com uma curiosidade um tanto indiscreta.
Um sorrisinho de canto, respira fundo e pronto!
Foram todos embora, e tudo resolvido!
Enquanto chama tanta atenção, nem parece estar lá. É apenas silêncio e cabeça baixa.
Os olhos grandes são cheios demais pra alguém tentar se aproximar e entender o que se passa, o que se pensa. E mesmo que tentassem, não teriam sucesso!
Ela se mantém com os olhos baixos, longe do alcance na maior parte do tempo, escreve segredos que fazem todos imaginarem milhões de coisas. – menos o que de fato ela escrevia.
Lendo, indo pra bem longe, ela viaja em histórias de amores, ódios, suspenses, horrores, não importa.. ela sempre viaja pra um lugar diferente. Sentada, quieta.
Submerge e se apega a cada detalhe, só pra fazer parte. Como um espectador invisível, sentado na mesa ao lado.. Parado no mesmo ponto.. uma mosquinha rondando a briga, o beijo, a fuga. Um pedestre que esbarra na rua, pede desculpas e segue.
Fazendo parte, do lado de fora!
Fecha o livro, pega a caneta e continua lá. Ausente do mundo, como se só a matéria descansasse ali.
As letras embolam, voltam atrás, ela ri sozinha e as reescreve todas de uma vez.
Agora constrói seu próprio caminho.. Viaja pra dentro.. no sonho, na realidade que fez parte, ou na vontade. Mas viaja. Tudo vale pra se manter longe daquela sala cheia de ruídos e de gente desinteressante, que volta em meia tiram a atenção do que realmente importa, o detalhe de um sorriso descrito milimetricamente.
Porque no meio de tanta gente, de tanta história e de tantos gritos histéricos.. ela é mais feliz entre histórias e garranchos itálicos!

Recorte V.



'Que bom é ser qualquer coisa,
assim, ao léu, uma pluma de vender,
um pensamento, um chapéu,
enfim ser, tão-somente isso,
ser apenas pelo meio,
sem um nome, 
sem um misto de ancoragem ou de enleio,
ser nada (não é possível)
ser tudo (mas é demais)
ser então o indefinível
nem tão pouco, nem tão demais'

(Armindo Trevisan)

12/11/2010

Recorte IV.

 
‘ Tudo parecia diferente agora. A mão cruel do destino, com um rápido golpe de pulso, acabara com o sonho.
Tudo desaparecera tão rápido. E era estranho pensar sobre isso agora. Tinha a sensação de ter caminhado por um longo tempo sobre a água de mares gelados, e quase se afogara. Mas estava começando a avançar outra vez, ainda congelada, ainda dormente, ferida, e marcada, mas achava que depois de tudo, talvez não se afogasse, de fato.
Havia agora uma chance mínima de que se salvaria.’

Danielle Steel - O RANCHO, Pg 169

06/11/2010

Estranhos.




Hoje eu sonhei com alguém de quem eu tava morrendo de saudade.
Sabe, quando você morre de saudade?
Agarrei-me ao sonho com tanto afinco que quase doeu quando tive que acordar.
Mas acordei, e usei de toda a minha força, pra me lembrar de quem eu sentia tanta falta.
Não consegui!
Só lembrei de ter corrido, no escuro, de mãos dadas.
Corria de alguém, eu acho. Como se aquele estranho estivesse tentando me proteger.
Sabe quando você sente que tá seguro com alguém?
Mesmo que só em sonho pude me sentir assim.
Mas isso não era o mais importante.
Uma agonia quase gritava.. era como se pudesse tocá - la.
À saudade, quero dizer. 
Uma angústia dominava cada minuto, enquanto eu pensava que tinha que acordar. Que era só um sonho.
Um sonho confuso, com um completo desconhecido!
Mas ainda assim doía só de pensar em acordar, e me afastar dele.. Então tentei voltar assim que despertei.
Fechei os olhos e respirei fundo. Afundei o rosto na escuridão que era a sua sombra, e tentei de todo jeito voltar ao mesmo lugar. Tentei correr junto, sentir a mão quente e o pulso firme que me puxava.. Tentei olhar mais uma vez a saudade, que me apertava ainda mais, depois de acordada. Tentei apenas cochilar pra fazê - lo voltar.
Pelo menos pra descobrir quem me fez sentir tanta dor.
Não consegui, é claro!
Só senti que estava em paz. Mesmo correndo, com medo, e com aquela saudade quase sufocante.
Era bom tê - lo ao meu lado. Mesmo sem fazer idéia de quem fosse!
Mesmo achando que ele era só.. éer.. Saudade!
Continuo com essa saudade. Continuo com a angústia, a sensação de sentir falta de alguém a quem não vejo, de fato.
Mas agora, tendo a certeza de estar acordada! 

21/10/2010

Recorte III.

-

'Segundo alguns psicanalistas, quando se apaixona você não se relaciona com alguém de carne e osso, mas com uma projeção criada por você mesmo; e a projeção que fazemos é a de um ser absolutamente perfeito. Mas depois de um período a projeção acaba, e você passa a enxergar de verdade a pessoa com quem está se relacionando. Invariavelmente, algumas virtudes do parceiro ou da parceira vão embora junto com a projeção, outras ficam .. e se o que ficou de cada um for suficiente para os dois, a relação perdura, caso contrário ninguém sabe o que faz o botãozinho ligar e iniciar uma nova projeção.'


'Sim, do comercialzinho do bombom.' ;D

08/10/2010

Vá entender.

Ah, eu tava lá.. sentada.
Quieta no meu canto, como sempre.
Ele sentou, sorriu e mais nada.
Queria que eu entendesse. Assim, só sorrindo.
Eu, que nao entendo nada, nunca.
Vou entender com ele sorrindo, assim.
Ah, faça - me o favor!
Tava quieta no meu canto, sentada.
Veio mecher pra que?
Pra eu não entender, eu sei.
Pra ficar assim, doida, tonta, chata!
Mais ainda.
Ele falou algo sobre.. sobre.. sonho, tempo, canto, riso..
Ah, sei lá sobre o que foi!
Ele sussurrou alguma coisa, a respeito de nós, sobre um 'se'.. um 'porque'..
Mas também me confundiu. Então, eu sorri!
Exatamente como estava. Sentada no meu canto, imóvel, sorrindo.
Sorrindo em preto e branco, sem muita nitidez.
Mas quente. Sorrindo, quase gargalhando um aquecimento global.
Ridículo, consegui pensar. Mas, vá entender!
Eu avisei. Insisti pra que não me deixasse pensar qualquer coisa.
E me dissesse exatamente o que fazer.
Só pra eu entender do que se tratava aquele sorriso.
Aí, quando ele perguntou se eu faria o que dissesse.. Só sorri.
Era óbvio que não! Nunca faço.
Ele não entende? Achei que entendesse de sorrisos. - Do meu sorriso.
Mas quer saber? Nem me importo!
Contanto que ele não sorria, vou continuar aqui.
Sentada, quieta no meu canto!

27/09/2010

Pela janela.

Agora?
Tenho tido muito sono, mas tenho feito tudo.
Tenho dito muita coisa, e vivido todas.
Não tenho tido tempo pra me preocupar com pormenores.
Os detalhes mais importantes aparecem por si.
Tô com preguiça, como sempre. Mas agora só dá preguiça de pensar em problemas.. Penso nas soluções, e isso me poupa um tempo precioso.
Tempo de deitar na rede, com o sol na cara e não fazer nada!
Preciso desse tempo, às vezes.
Dia desses bateu uma saudade estranha. Saudade de mim, sozinha.. em paz!
Larguei todo mundo, e larguei tudo, do lado de fora e fechei as portas.
Fechei as portas pra respirar, em silêncio!
Tomar ar!
Às vezes abro a janela e dou uma olhada pra ver se estão todos bem, e no mesmo lugar onde os deixei. Mas não estão.. Nunca estão!
Alguns estão do outro lado da rua, outros chegaram mais pra perto de forma surpreendente - e diferente, confesso! - , alguns estranhos apareceram.. e há aqueles aos quais nem consigo ver mais. Andam por outras ruas, outros lugares.
Mas há também os de sempre, parados no mesmo lugar. Aqueles dos quais sempre sei o que posso esperar. Mas nem assim espero, só por garantia, por precaução e auto - preservação!
Então, sorrio, aceno e os deixo lá.. Com toda sua importância, ou falta dela.
Volto pra dentro, penso mais.. e falo menos.
Dou um tempo pra cantar, e pra ouvir cantos alheios.
Escondo-me em cantos enquanto ouço. Cantos vazios de euforia, e agitação.
Cantos escuros, frios, e sozinhos. Não, não tenho medo deles.
Sem se dar conta, cada um tem o seu.
Seu canto particular, esconderijo, ou como queiram chamar!
Deito pra pensar, e sonho!
Sonho de olhos abertos, e ouvidos atentos.. Ouço cores altas, que vibram acordes cheios de tempo. Tempo parado, retrocedendo e me levando junto.
Penso em voltar pra fora, mas essas coisas me cansam. Então vou devagar, parando de 5 em 5 minutos pra descansar.
Falando em cansar, noite passada, sonhei acordada e fiquei exausta.
Acabei dormindo enquanto pensava.
E agora?
Agora, o dia é cheio do que fazer, e de nada falar.
Talvez eu tente, e até tento mesmo.. Mas nunca dá muito certo.
Deixa pra lá.
Pensar em voz alta e com o corpo todo já me comprometeu o suficiente.
Até agora!

27/08/2010

Reticências.

Nunca me preocupei em rotular, ou definir as relações à minha volta.
Não de forma consciente pelo menos.
Sei o que me faz bem, e o que não faz!
Sei bem o que quero, e o que não quero!
Sei do que eu gosto, sei do que eu ouço, sei do que eu falo!
Não me incomodo em saber do que eu penso, porque isso.. Aaah, isso é só meu!
E não cabe a ninguém me obrigar a entender a não ser que me seja vital!
Salvo isso, não sei de muita coisa.
Não me acostumo com traição. Não acho normal, omissão.
Não gosto de tentar, não gosto de cansar, não gosto de enjoar, não gosto de ponderar.
Não tenho muita paciência, mas estico a que me resta até que não consiga mais estender os meus braços.
Não gosto de histórias incompletas, inacabadas.
Pra uma história ser boa tem que ter o mínimo de coerência, mesmo que o mínimo seja quase nada.
O básico, o indispensável, é que tenha pelo menos início, meio e fim!
Sim, fim! Porque não? Os finais fazem parte, e são importantes também, oras!
Reticências são pra os que temem o fim!
Pois os meus fins, faço eu mesma! Justificando ou não os meios.
Meios que aliás, nunca me deixaram satisfeita de verdade.
Metades não me movem, não me preenchem, não me fazem querer. Só me cansam.
Sei reconhecer quando chega a hora de parar, de pausar e descansar.. Ou de pular.
Abandonar o barco! Certa de que estou inteira!
Como sei? 
Muito simples.. Quando tenho que pensar demais.
Quando tenho que medir demais, me preocupar demais.
E quando deixa de ser bem, pra ser busca.. E então passa a ser menos.
Menos paciência, menos paz, menos sorrir, menos sentir!
Quando pesa. Sabe, quando pesa?
Então. Aí eu largo tudo no chão e volto ao meu lugar.. Me desfaço do peso e disfarço uma angústia reprimida e uma tristeza sufocada.. Mas só por alguns segundos.
Respiro fundo e conto: 1, 2, 3, 4, 5... foi!
Volto a sorri, a ter certeza completa de quem sou, e do que eu sinto.
De onde estou e do que eu devo fazer!
É bom saber por onde piso.
Porque mesmo com o chão cheio de cacos de vidro, eu piso com o pé inteiro!



‘Afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas. E estar entre vírgulas, é aposto. E eu aposto o oposto!’
@Fernando Aniteli

24/08/2010

A angústia bem vinda.

Tô mordendo o fone de ouvidos agora, enquanto ouço a voz doida de tão leve da Adriana Calcanhoto.
Você sabe! Quando eu to nervosa eu mordo. Geralmente a mim mesma, mas hoje por sorte o fone apareceu!
E enquanto eu ouço súplicas gritantes sendo quase sussurradas, eu sigo a letra.
‘Porque meu coração dispara quando vem o seu cheiro, dentro de um livro..’
Quase posso sentir o cheiro, e acabo fechando o livro pra não correr o risco de ficar doida também.
Inalo a angústia em demasia. O ar chega a pesar por conta da ansiedade e me dá embrulhos no estomago pensar em qualquer coisa lógica agora!
Mas você sabe, quanto mais nervosa, maior é o estrago!
Eu reclamo, mas é só de brincadeira.
Porque no fundo, no fundo.. me encanta o vislumbre de reações que eu não sei quais serão, muito menos se virão de fato!
A realidade é que quanto menos eu sei, mais eu quero.
Descobrir, do jeito que for. Do meu jeito, na minha hora, ou não!
Desvendar, explorar, escavar.
Deixar de procurar trilhas prontas pra chegar às respostas.
Prefiro criá – las. As trilhas, quero dizer. Você me entende?
Achar as respostas sozinha, sem ter de interrogar, torturar..
Apenas ouvi – las, vê – las acontecer por si!
Se não forem favoráveis? Se desaparecerem e eu ficar no escuro?
Aaaah, faça – me o favor!
Sabe muito bem que sei lidar com isso!
Não faço idéia de como. Nunca faço!
E acho que essa é a última de todas as respostas a aparecer.
Mas ainda assim aparecerá, e esse queimar que me consome terá valido a pena!
E o fone estragado também.
Porque amanhã terei outros.
Outros mistérios, outras músicas, outras angústias, outras respostas e, principalmente, outros fones!

18/08/2010

Recorte II.

A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui, parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota.
Dama da noite, todos me chamam e nem sabem que durmo o dia inteiro.
E acontece que eu ainda sou babaca, pateta e ridícula o suficiente para estar procurando ‘O Verdadeiro Amor’.
Para de rir, senão te jogo já este copo na cara!
Pago o copo, a bebida. Pago o estrago e até o bar, se ficar a fim de quebrar tudo! Todo machinho da sua idade, tem loucura por dar o rabo, meu bem. Ascendente câncer, eu sei: cara de lua, bunda gordinha e cu aceso.
Você não viu nada, você nem viu o amor!
Que idade você tem, 20? Tem cara de 12. Já nasceu de camisinha em punho, morrendo de medo de pegar AIDS.
Já viu gente morta, baby? É feio, baby. A morte é muito feia, muito suja, muito triste.
Queria eu ser assim, delicada e poderosa para te conceder a vida eterna. Eu cansei. Já não estou mais na idade. Quantos? Ah, você não vai acreditar, esquece!
O que importa é que você entra por um ouvido meu e sai pelo outro, sabia?
Você não fica, você não marca. Eu sei que fico em você, eu sei q marco você.
Tá tudo bem, é assim que as coisas são: ca-pi-ta-lis-tas, em letras góticas de neon.
Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada.



@ Caio Fernando Abreu

10/08/2010

Desordem.

Nostalgia de acordes. Confusão, distração, atração, erupção!
Essas são as palavras de ordem, ou desordem.. Como preferir.
 O que na verdade me incomoda é que eu não sei falar pra que me entenda. Não sei concordar, contextualizar, verbalizar o que sinto.
O que tenho de mais concreto agora é ansiedade. Eu ouço minha respiração, sinto que cerro os dentes, e que meu estomago embrulha a cada sinal de alerta!
Sim, alerta! Me acorda a velha companhia de sempre.  O medo. Do bicho papão a quem tenho deixado bem à vontade dentro de casa.. Brinco com ele, e não me assusto quando o vejo de frente. Mas medo e solidão são companhias que me querem só. Sem bicho, sem grito, sem calma.
Angústia requentada, remendada, relembrada. Sentimento de querer libertar a casa dos monstros e não ter como fechar todas as janelas antes que eles voltem.
Tenho paz na voz, tenho um sorriso nos olhos, tenho até um lampejo de inocência. Mas isso não dura muito!

07/08/2010

Por não estarem distraídos.

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

@ Clarice Lispector.

01/08/2010

Aprendendo a ler.

Ela só olhava. Não diria nada, nunca!
Nem precisava.. E ele tinha consciência disso.
Ele contava, em um discurso interminável, tudo o que havia vivido até então.
E ela só olhava. Olhava e ria.. Mas nada, nada, jamais diria!
Não podia se entregar, e se falasse algo, isso aconteceria com muita facilidade.
Se quisesse, ele que percebesse sozinho!
Era inevitável, a cara de boba, o sorriso fácil, e os suspiros disfarçados.
Mas só ele não via, era o único que não percebia.
A luz não era muita, e o lugar era de um ruído confuso, mas não muito alto. Porém qualquer um que olhasse com um pouco mais de atenção por apenas 2 segundos enxergaria!
Ela estava apaixonada!
E repito, era muito fácil perceber.
Mas porque, então ele não conseguia se dar conta?
‘Ele não é muito observador’. Ela dizia pra as amigas, como se achasse bom. Mas não precisava ser. Era mais do que óbvio. Pelo menos pra as outras pessoas.
Mas não é preciso entrar nesses méritos. Poucos observam a ponto de perceber o que se passa, tão de perto. Normalmente só se consegue ver coisas assim, quando se está de fora.
Imune à explosão de sentimentos e sensações, às dúvidas, e às expectativas que se confundem.
Porém, o que se via não era dúvida. Era como um ímã, os olhos dela nos lábios dele, enquanto falava.
E como ele falava!
Ela parecia incansável, hipnotizada!
Passaram alguns conhecidos, deram boa noite. Eles não os viram, de fato. Apenas acenaram.
E ele continuava a falar. Falar e sorrir. Ninguém se deu conta também.
Que ele ria, do sorriso dela, dos olhos dela. E via que quanto mais ela sorria, mais ele queria falar. E falava!
Ela dava toda atenção a ele, e ele adorava isso. Dava todo o seu sorriso, e ele gostava ainda mais. Ela era linda sorrindo! – como se não o fosse enquanto séria, ele pensava. – Mas não precisava falar, não queria também tocar nesse assunto. Não poderia falar tão sério agora. Ainda era cedo. Achava que a assustaria, assim como ele estava assustado com o que sentia.
Mas não tinha pressa. Ia ser paciente, e esperaria o tempo certo.
O tempo dela, ou dele.. Não sabia ao certo. Mas esperaria.
O necessário, pensou!
Enquanto ele devaneava, esqueceu de continuar falando, e só percebeu que parara quando viu que o sorriso havia sumido, e ela o fitava confusa.. esperando que ele continuasse.
Ele apenas sorriu, sorriu o mesmo sorriso que ela e se convenceu que sem maiores explicações, ele deveria dizer o que estava há horas se tornando um bolo enorme na sua garganta.
Ela perguntou, embaraçada e divertida ao mesmo tempo: ‘O que foi?’
Ele apenas sorriu, fez uma expressão de desdenho, como se não fosse nada importante, tocou os dedos na mão gelada dela e se concentrou como se fosse voltar ao assunto anterior.. ‘Eu amo você!’ Assim, tudo de uma só vez, rápido demais pra se arrepender e voltar atrás.
E ela? Fez o que ele mais queria.. Apenas sorriu, um sorriso que ele nunca havia visto.
Então se viu correspondido e reparou no sorriso que todos já haviam notado.
Ficou feliz então, por perceber que ela estava dizendo aquilo a noite inteira, pensando estar sendo discreta.
Afinal ela não falaria nada! Admitir? Nunca, jamais!
O amava, e tinha certeza disso. Mas jamais diria, não em voz alta.
Só não contava que ele uma hora ele fosse aprender a ler!
E leu!

28/07/2010

O mito da mulher misteriosa

Com certeza você já deve ter visto uma dessas ou no seu trabalho, grupo de amigos ou mesmo andando nas ruas. Talvez você até mesmo seja uma dessas mulheres.
É fácil reconhecer a mulher misteriosa. Ela jamais atende o celular na sua frente. Se levanta e vai atender bem longe de você. E você não sabe se ela está narrando alguma postura do Kama Sutra ou uma receita de bolo de fubá da vovó. O toque do seu celular é discretíssimo e você nem percebe que ela saiu de perto pra atender. Porque ela também é discretíssima.
Por que terminou o namoro da mulher misteriosa? Ela enjoou dele? Levou um pé na bunda? O cara morreu? Ela ta sofrendo? Você nem sonha. Ela não conta nem pro terapeuta. Aliás, você também jamais vai descobrir se existe um terapeuta.
Sua idade é entre 25 e 38 anos. Não dá pra saber só de olhar. Seu rosto se desfaz em segundos. Talvez ela more nos Jardins. Pinheiros. Veio de Curitiba. Ela é carioca? É ali por perto, você acha. Seu carro é preto ou cinza, quase certeza. Ela gosta de música, porque vive de I-pod. Mas o que será que ela escuta? Nada. você não sabe absolutamente nada da mulher misteriosa. Quando você a encontra no banheiro, dá um segundo e ela desapareceu. E você louca pra descobrir, ao menos, a marca da sua pasta de dente.
Numa mesa de bar com conversa animada ela se limita a sorrir. Numa festa importante ela se limita a aparecer por minutos e desaparecer em segundos. Em um show ela jamais canta as letras, rebola, comemora, fica suada. Aliás, quem é que já encontrou ela em algum show? Ou em algum lugar? Mas era ela, não era?
Dizer seu nome em vão parece até um pecado. Ela nunca fala de ninguém e muito menos dá assunto para alguém falar dela. Não se tem nada a dizer dessa mulher. Mas, para desespero geral de todas as outras mulheres, o mundo não tem outro assunto.
Todos os homens desejam loucamente a mulher misteriosa. Todas as mulheres desejam loucamente a mulher misteriosa. Sua personalidade incerta acaba se tornando uma personalidade fortíssima e seu jeito anulado acaba se tornando um espaço gigantesco para todos imaginarem o que bem quiserem.
E eu, como estava dizendo, sempre quis ser dessas mulheres imperfuráveis, inatingíveis, inaudíveis e incompreensíveis. Mas nunca consegui. Quando vou ver, já contei minha vida pra primeira pessoa que me deu um pouco de atenção. Já to rindo alto no restaurante porque não me controlei e fiquei feliz demais. Já escrevi um texto sobre o fulaninho da terça passada e publiquei numa revista. E o fulaninho ta morrendo de medo porque escrevi que gosto dele. E se alguém perguntar, vou dizer mesmo que goste dele. E se ele não gostar de mim, minha tristeza não será segredo para ninguém. E minha pasta de dente é para deixar os dentes branquinhos. E quando vou ver, lá se foi a mulher misteriosa que eu gostaria tanto de ser. Porque eu jamais poderia ser uma.
E sofri anos com isso. Até que resolvi conviver de perto com algumas mulheres misteriosas para tentar descobrir o que se passa na cabeça e na alma desses seres incríveis que nunca têm nada a dizer, a doer, a aconselhar, a cantar, a dançar, a morrer de rir, a fofocar, a detalhar, a exagerar, a sonhar, a dividir, a acrescentar. E descobri que a coisa era muito mais simples do que eu imaginava: nada. Não se passa nada de relevante nem na cabeça e nem na alma dessas mulheres.
As mulheres misteriosas, tão admiradas e desejadas, não passam de mulheres sem a menor graça. Elas não calam por mistério, charme ou discrição. Calam porque simplesmente não há nada mais sábio que elas possam fazer.

@ Tati Bernardi

27/07/2010

Sempre tentei...

... diferenciar aquilo que se passa dentro de mim com o que acontece diante dos meus olhos, nunca soube se podia
confiar no que é certo, ou naquilo que eu sinto que é certo ... as leis e formas muitas vezes contradizem tudo o que se passa em minha cabeça. Se enganar em meio a tantas mentiras está cada dia mais fácil. Percebo aos poucos, que conviver com a verdade dos outros, talvez não seja o melhor pra mim, nem pra ninguém! E aprendi, que os nossos sentimentos são as nossas verdades.
Não tenho culpa se meu sorriso é de verdade e acontece por motivos bobos. Não tenho culpa se meus passos não são firmes. Não sou perfeita, nem de longe! Eu tropeço e caio de vez em quando, aliás, eu caio muito, e muitas vezes. Já me acostumei com a dor da queda.. Mas não me acomodo agora, não como antes. Levanto e ando para que caia novamente, e porque não? Meus olhos têm brilhado bem diferente ultimamente. E brilham diferentes a cada dia, então começo a me preocupar, pois tenho medo da velocidade dessas alterações. E daqui do meu lugar não consigo acompanhar sem me dar conta de que perdi a boa forma.. perdi o costume de mudar, de transformar. Então, tento entender a existência de algumas pessoas. O mundo aqui não é dos mais justos mesmo.. compreendo.
Mas mesmo assim, eu tenho bastante lápis de cor.
Empresto pra quem quiser pintar a vida.
Mas por favor, não borrem a minha!


24/07/2010

Foram todas embora!

Tudo bem, não foi nada!
Só me deu vontade de te dizer umas coisas.
Mas aquelas coisas que, você sabe!
Apareceram do nada, todas de uma vez, e no segundo seguinte.. Sumiram!
Foram todas embora!
Tentei listá - las de forma prática, como sei bem fazer. E como, aliás, faço com tudo o que tenho que dizer. É, esse é o único jeito.
Mas não deu muito certo. Fiquei confusa com alguns sonhos, algumas letras que eu ouvia, textos antigos que eu lia, e com frases feitas que eu jurava, poderiam me ajudar.
E foi em vão, porque ainda assim elas sumiram.
Foram todas embora!
Então da forma menos coerente e contida possível, tenho que por pra fora agora essas coisas, que me acordam na madrugada:
Primeiro, que você me assusta. Mas isso não é novidade, eu sei!
Segundo, que eu me assusto ainda mais comigo mesma do que com você, e isso eu não lembrava mais como era!
Tenho estado embaraçada, desconcertada, desajustada, e completamente despreocupada.
Perdi as rédeas. E esqueci de continuar enumerando. O que prova que além de tudo, estou desorganizada.
Mas acho que não tem problema, porque ao ler, você vai achar que essas são coisas simples, fáceis de lidar, fáceis de entender.
Eu não acho tanto assim. Só que não dá pra explicar agora.
Porque as enumeras explicações, e justificativas pra tudo isso sumiram.
E mais uma vez, foram todas embora!

23/07/2010



Tenho preguiça até de pensar.
Não quero falar, não quero gritar.
Não quero nem olhar!
Quero apenas ouvir o som de um conto.
Cantado no ouvido. Que seja só meu.
Meu canto. Refúgio!
De ouvir, e dormir.
Ou ouvir o silêncio num canto, como um mantra.
E cantar pra ninguém me escutar.
Pedir pra um Santo ajudar.
E ouvir uma canção de ninar.
Que me faça dormir sem chorar.
Sem pensar.
Até porque, inclusive pra chorar estou com preguiça.
Imagine pensar!

18/07/2010

Voar.

Se um dia você sentar no topo de uma pedra. Em silêncio. Você, o céu e o mar.
Em que você vai pensar?
Vai sentir o que?
Saudade? Medo? Vontade de pular? Ou de voar?
Do que você vai lembrar?
O que vai desejar?
O que jogaria? O que buscaria?
Já imaginou o que há por trás dessa pedra?
Falo da sua pedra!
A que você coloca sobre o problema, a ofensa.
Em cima do pedido de desculpas, em cima do assunto.
Teria coragem de levantar a pedra agora?
Tenta descer bem devagar pra olhar para cada ‘assunto enterrado’.
Teria coragem de desenterrá – lo e resolver?
Ninguém tem!
Mas então. Hoje eu resolvi subir... Sentei na pedra e ouvi o vento trazer num sussurro cada assunto enterrado, esquecido, enrolado, deixado de lado.
Aqui, ninguém pode ouvir o que eu penso.
Ninguém pode ver o que eu sinto com a pele, com os nervos, com os dentes, e olhos.
Não corro o risco de explodir e sair desenterrando tudo. Gritando os pensamentos aos quatro cantos como se fosse tanto.
Forrei a pedra, deitei e pensei sorrindo, apenas. Em silêncio!
Que preciso desenterrar o pouco que ainda está por trás, e que a explosão não será catastrófica, como parecia.
Apenas barulhenta!
Até porque, esse silêncio aqui em cima, me dá nos nervos. E esse vento soprando memórias recolhidas é muito frio, pro meu estado de espírito atual.
Agora eu acho que quero uma pá... e algumas ferramentas também.
Mas por favor, se as trouxer jogue - as todas lá embaixo.
Antes de começar gostaria de voar um pouco. Vem comigo?

15/07/2010

Sentidos, sentidos.

Som, cheiro, pele, gosto, imagem.
Os cinco sentidos se ajustam.
Entram em sintonia, e fazem o que há de ser feito!
Tudo é como uma súplica, que se estende até todos estarem extasiados
e completamente desligados da consciência que os cercava até então.
O gosto é outro.
O que se ouve é a melodia cortante do respirar.
O que se sente vai além dos poros, da pele.
Nada se vê.
E o torpor engana o olfato, que é esquecido. Deixado de lado.
É impossível descrever. E assim será!
É preciso que os dez estejam em sintonia. Em contato profundo, e ligados.
Talvez poucos entendam o que eu falo, e menos ainda saibam como é.
Mas todos esperam que um dia sintam - se assim.
Além dos livros, dos sonhos, das imagens, sons, cheiros, gestos que se formam na mente.
Além das mãos tremulas que tentam ajustar e combinar as palavras pra descrever
o mínimo possível do que se passa na mente.
Embrulha o estomago, turva os olhos, corta a respiração e morde os lábios.
Morde os lábios até sentir o dolorir cansado que a fez parar, lembrar de respirar,
e voltar às páginas que a fizeram perder o fôlego, a concentração, e por fim, o sono!

14/07/2010

Confusão (II).

Talvez te interesse apenas saber que não tenho tido paciência pra me importar com quedas, muros, labirintos, gostos amargos, e coisas do tipo. Inclusive metáforas.
Não tenho tido tempo e disposição pra pensar num julgamento sensato pra essas ou aquelas declarações, pra analisar o ocorrido, e organizar as possibilidades.
Não tenho tido tempo pra escrever, pra falar, pra formar opinião, tirar conclusão, escolher o certo a fazer.. Enfim.
Tenho feito, dito, e sentido o que tem me feito bem. E isso basta, por enquanto.
Tenho ajudado menos aos outros, e me preocupando mais comigo mesma. Assim como tenho julgado menos, aos outros e a mim mesma.
Tem me feito feliz apenas cantar, dançar, ler, engordar, sorrir até soluçar, abraçar sem esperar, beijar por impulso, e sentir coisas simples.
Coisas que não faço questão e não vêm ao caso identificar, rotular, medir, pesar, deixar de lado.
Apenas saber que existem e que são um bem por agora me basta.
Mas que te importa?
Agora me sinto bem por ouvir o Djavan cantar, o rio, o mar, a boca e o beijo.
Não penso em nada, porque vejo a música se fazendo filme.
E quer mesmo saber?
Isso é o que realmente tem me feito muito bem.
Mas também... Que te importa, né?

Saúde.



Acho a maior graça. Tomate previne isso,cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere...

Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos.

Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde.

Prazer faz muito bem.
Dormir me deixa 0 km.
Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha.
Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos.
Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias.
Brigar me provoca arritmia cardíaca.
Ver pessoas tendo acessos de estupidez me
embrulha o estômago.
Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano.
E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem!
Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo,
faz muito bem! Você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada.
Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde!
E passar o resto do dia sem coragem para pedir
desculpas, pior ainda!
Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna.
Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca!
Conversa é melhor do que piada.
Exercício é melhor do que cirurgia.
Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente.
Economia é melhor do que dívida.
Pergunta é melhor do que dúvida.
Sonhar é melhor do que nada!

03/07/2010

Coleção de corações.

Fazia diversos joguinhos para colecionar corações, tenho todas as peças guardadas na memória. Antes eu poderia dizer que jogava para acariciar meu ego, mas hoje sei que não se tem ego com tantas e tantas rachaduras no peito. Eu achava divertido jogar, as coleções me serviam de escudo, eu brincava, pulava, pintava e bordava, sem nenhum arranhão no fim, sem sofrer quedas. Porém, não gostava de jogar com quem verdadeiramente me importava; era contra as regras. Eu correria grandes riscos de esquecer-me do objetivo do jogo e quebrar a regra principal, que era não cair; não me arranhar. Quando apareciam pessoas assim, eu apertava “pause” no meu jogo. Por mais jogadora que fosse, queria viver de verdade; sentir. Tentava até certo ponto, mas depois via que era mais viável continuar a jogar.“Start” para mim mais uma vez.

@ Railma Rochele.

Confusão (I).

‘Como eu me sinto?’
Que te importa?
É, eu sei! Mas a sua preocupação nunca me convenceu.. Não seria diferente agora, né?
Pois bem. Estou aqui deitada, ouvindo músicas com aqueles mesmos clichês de sempre.
Aquelas que mandam você ‘jogar as mãos para o céu e agradecer, caso tenha alguém que você gostaria que estivesse sempre com você...’
E eu ? Sorrio, e mais nada !
As músicas mudam. Vozes diferentes me levam no embalo. Trazendo à memória dias, sonhos, sons cheiros, olhares.
Sempre lembram alguma coisa. Mesmo que já a tenha esquecido.
Mas hein.. Ultimamente tenho estado meio alheia aos meus muros.
Tenho dado preferência a sentar sobre eles e aproveitar a vista do que há em volta. E até que não tem sido ruim!
Não diria que voltei a sonhar como antes. Só não tenho pesadelos e durmo tranqüila. É isso!
Aproveito tranqüila o que guardo aqui. O sorriso, o olhar, o cheiro, a voz, as mãos, boca, cascas e recheios.
Sabendo que no fim, pode vir o gosto amargo. Mas que me importa?
Só tenho sentido o doce do recheio, como um chocolate!
Consegue ver assim?
Eu sei, eu sei. Falo como se fosse tanto, e muito. Como se fosse uma panela inteira de brigadeiro. Mas não!
Pense apenas como uma barrinha de chocolate que acabei de abrir e comer os dois primeiros quadradinhos. Sem ao menos ter contado quantos outros tem. Mas não me importo em saber agora.
Só os guardei na geladeira pra experimentá – los depois, e descobrir que gosto têm.
Sem pressa, sem fome, sem a necessidade angustiante que consome após as primeiras mordidas.
Pretendo talvez, tirá – lo da geladeira, embalar pra viagem e levá – lo no bolso, pra quando quiser lembrar o gosto.
Mas com calma. E só se for mesmo como os dois primeiros pedaços. Doce, e só!
Detesto chocolate amargo. Mesmo que seja só meio!
Mas então, continuo ouvindo as músicas com frases feitas e profundas filosofias de vida.
Prefiro as antigas, mas algumas mais novas se encaixam tão bem que chegam a confundir.
São sorrisos que fazem verão nos olhos com lápis preto pra afastar quem não quiser me ver feliz.. Que tiram do sono e do sério, com all stars azuis e um caminhar envolvido por mistérios de uma menina singular, a quem todo mundo quer cuidar enquanto na verdade o que quer é sair, e cair – não necessariamente nessa ordem. – mas tem medo. Que dá medo do medo que dá. Além da timidez que a faz camuflar, desfazer, disfarçar. Sendo pensamento, furacão e vento.. Cantando sinfonia, soprando no ouvido esse mantra de um signo de ar, - quando na verdade é de terra. - Mas não vê problemas, porque assim que dá, pra mudar o tempo, inventar hora e fazer história em cada momento sem fazer idéia de como controlar.
Pode parar de rir, por favor? É, eu sei que gostou tanto quanto eu.
Até porque também não consegui controlar o riso, enquanto juntava os trechos, e fazia a minha trilha sonora particular.
Eu sei. E avisei que seria confuso!
Não avisei?
AAAh, mas que te importa?