22/06/2010

Fita métrica.

Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento. Ela é enorme pra você quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado. É pequena pra você quando só pensa em si mesmo, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade.

Uma pessoa é gigante pra você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto. É pequena quando desvia do assunto.

Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês.

Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições? Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.

É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações. Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes.

Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade sem tamanho.

@ Martha Medeiros

11/06/2010

Uns poucos inteiros.

Mordo os lábios, olho pro outro lado e respiro fundo.
Enquanto mordo, sinto o dolorir que já havia se feito antes.
Num primeiro momento, ansiedade, sensações estranhas. Num segundo uma angústia incontrolável. Uma súplica por um abraço. Isso! Assim eu defino a segunda mordida.
E agora? Agora é a busca por uma estrada quase palpável de palavras pra definir o sentir, o estar.
Verbos?
Não! São poucos os tempos a se aplicar. Presente, pretérito, perfeitos, imperfeitos, mais que perfeitos.. E os menos perfeitos, ou quase perfeitos, onde estão?
Menores são as formas, os tons, as cores. Mas do que eu estou falando?
Onde estou agora, na minha estradinha de letrinhas?
Acho que me perdi. Vejo apenas as letras crescendo à frente, e ao redor. Mas não me assusto.
Não mais! Já fui atormentada por essas mesmas sentenças em momentos menos propícios.
É! Hoje o dia combina com elas. Confuso, Incerto. Contradisse a previsão da manhã.
E a noite, revirou as perspectivas e as tornou assimétricas. Desconcertadas. Confusas!
Já disse que tenho preguiça, hoje. Não quero pensar, não quero falar, não quero nem ouvir.
Mas talvez fosse bom.. talvez acalmasse, ouvir um mantra, um acorde que fosse. Uma daquelas canções que me fazem desprender os dentes, fechar os olhos e chegar a nem sentir que respiro. Mas não quero barulhos demais. Desisti dos cantos berrados que energizam e dão o fôlego pra cantar. Quero a música doce, a voz quase muda, quase rouca, quase calma, de um quase gritar pra me fazer dormir, talvez quase acordar!

Hoje não quero nada de inteiro. Mas entenda: SÓ HOJE!
Não quero extremos, não quero paixão, não quero drama, intensidade, não quero detalhes.
Só por hoje eu dispenso todas as certezas intragáveis dos meus dias. Todo o tédio, toda a euforia. Tudo que se faz em demasia. Dispensado!
Hoje eu quero um ‘quase’. Um quase, quase meu. Metade seu, talvez, mas ainda não tenho essa certeza também.
Quero um quase sorrir, quase cantar, quase chorar, quase gritar, quase ouvir, quase falar, quase dormir, quase ir, ou vir.. E um quase fim.
Quero de inteiro hoje apenas algumas coisas, que posso contar nos dedos.
Um colo, um abraço, um sorriso.. Inteiros, mas poucos!
 

06/06/2010

Traíra

Venha, não tenha medo. É só o mar. Não, eu não sei nadar. Eu te ajudo, vem. Confia, vem. Estica a perna assim, abre o braço assim. Respira assim. Vem. Mas eu não sei. Mas eu tô aqui. Olhe meus olhos tão arregalados, como posso guardar mentira aqui? Eu posso cantar pra você, eu posso te segurar, eu posso ficar aqui até você conseguir. Eu não sei. Tá perto. Vai. Solta da borda. Eu sei, você já foi parar no fundo. Mas agora é diferente. Tá mais raso. E eu tô aqui. Eu vim do outro lado do oceano. Eu vim só por sua causa. Vem, larga da borda. Pode vir. Eu vi você como você é e é por isso que estou aqui. Confia. Não sei. Pode vir. Não tem mais ninguém. A borda é para os peixes pequenos. Solta, isso, relaxa a cabeça no meu peito. Não tem fundo mas eu te ajudo a flutuar. Você pode. Calma. Afoga um pouco no começo, cansa, desespera. Mas você quer como eu quero? Quero. Então eu te ajudo. Vem. Isso. Segura em mim. Paz. Azul. Agora, você está quase conseguindo. Falta só metade. Você está quase chegando, mas eu vou decepar a sua cabeça pra usar de bóia. Eu também não sei nadar.


@ Tati Bernardi.

05/06/2010

Máquina de lavar!

-
Hoje quero quase o contrário!
Talvez não me calar, mas também não quero gritar.
Quero chorar por força de expressão, mas sem expressões muito fortes, pra não machucar ainda mais meus lábios mordidos, rachados, partidos.
Não quero me expressar claramente, não quero que me entenda. Não quero nem que me ouça.
Na verdade o que queria agora.. Era o grito mudo do vento, jogando uma mecha de cabelo no meu olho quase escuro, do lápis borrado. Enquanto balançava as ondas que gelam meus pés. Gelam a alma, o suspiro, o respirar.
E respiro fundo, puxo todo o ar de uma só vez, ao ver de perto o prata da lua no mar, quase cegar as vistas. Me visto, de vento, invisível, mudo.
Meus sentidos é quem conversam, mas só comigo. Num sonho acordado, em sintonia calma, quieta, muda.
Parada!
Ouvindo apenas o canto leve da brisa que os anjos sopram, só pra me acalmar.
Enquanto ao molhar meus pés, a água gelada encontra nas suas extremidades a carga pesada que tem de levar. E lava!
Lava os pés, a alma, a calma, lava o dia. E o leva embora.
Leva consigo, num canto e num riso, de acordes simples que não acordam, o sonhar acordado.
Leva o barulho, a euforia, leva a ansiedade, a angustia, a agonia, leva a lágrima, o cansaço, o peso, o passo.
Me leva junto, num sonho calmo, de um sono leve.
Me acorda então, o cheiro do mar, da vida.
Um suspiro pra entender só o que eu quero aqui. Mas não demoro e vejo que não preciso entender.
Por que eu só quero sentir, ver, ouvir, pra então voltar a dormir.
Mas do lado contrário!

01/06/2010

Eu sonhei música !

 Você já viu isso antes? Pois eu ouvi!

É! Ouvi um sonho, enquanto dormia um sono pesado. Aquele de antes de acordar, sabe?

Já tive sonhos de todos os tipos. E vivo exalando música pelos poros, pêlos, boca e olhos.

O dia inteiro, e os que são metade também!

Mas entenda. Os dois juntos, nunca! Eu disse: NUNCA!

Pela primeira vez, desde que eu me lembro, eu quis não parar de sonhar. Assim como pela primeira vez posso dizer com a convicção de quem vivenciou.. Que eu vivi música 24 horas por dia. Não que antes eu jurasse em falso. Mas agora, a minha verdade gritou! Minto.

Cantou, em sonhos de acordes que brincam, e cantam canções de ninar, canções de acordar, mas não me acordam.. Continuam sonhos. Música em sonhos.

E de verdade!

Você sabe o significado da ‘música’?

Para Gama Kury, a música é: ‘A arte de combinar os sons para que produzam efeito agradável. Qualquer conjunto de sons. ’

Qualquer conjunto de sons? Palhaçada!

Pois na minha vida a música não se aplica dessa forma, com esses predicados, todos prejudicados. Com essas formas verbais imperfeitas.

Penso e vivo a música com um único sinônimo: AR!

Quanto tempo você consegue ficar sem respirar? Sem inalar o oxigênio?

Isso acontece de forma natural. Você não lembra que está na hora de respirar. Não pensa que está na hora de inspirar o ar para oxigenar seu cérebro, fazer o coração bater e o corpo funcionar.

O ar é o que te mantém vivo, consciente. Por menos consciência que você tenha disso.

Ele está ali. O tempo inteiro, de forma involuntária. E te mantém de pé!

Então, a definição do Gama Kury para o AR, se encaixa melhor à música, do que ao próprio:

‘Mistura gasosa que forma a atmosfera. Clima. Vento, aragem. Espaço aéreo. CÉU!’

Sentiu a diferença? A leveza que o significado dá ao seu real sentido na vida?

Na minha pelo menos!

Eu sei, eu sei! Você já me disse isso antes. Mas não me importo.
Porque fui eu quem sonhou. Simples assim!
E não cabe a você entender, nem mesmo tentar.
Só me ouça. Preste atenção e não ria desse jeito. Não ria do único sonho que tive pelo qual valeu à pena acordar atônita, como se me afogasse, sabe?
Eu sei que não!
Pois eu te conto. Posso descrever nos mínimos detalhes cada vez que acordo com os sonhos que me assustam, mesmo sendo todos completamente inofensivos.
Mas é verdade! Acho que o que realmente me assusta é o fato de sonhar! Ou o modo como a realidade insiste em me trazer à tona pra respirar esse peso que a atmosfera me força a agüentar. E sem música. Tudo em silêncio, quieto, mudo!
Mas você quer mesmo falar sobre isso, agora?
É, eu sabia que não!
Na verdade sua expressão me faz crer que não quer mais conversar, sobre absolutamente nada!
Mas ouça. Só ouça!
Eu sonhei música! Sonhei um canto que invade os dois planos, chega a qualquer canto possível. E se faz realidade a cada grama de ar pesado que eu sou obrigada a inalar.
Então, já imaginou se o ar fosse música?
Se fosse vital a você, apenas ouvir? Você não sabe ouvir. Ninguém sabe!
Mas imagine então. Que pra se manter vivo, você só precisasse ouvir e ecoar, notas agudas e graves, em todos os ritmos, em todos os timbres. Como você sobreviveria?
E se isso não fosse apenas um sonho?
Naão! Não precisa falar nada.
Eu te respondo: EU seria feliz a toda hora. O meu ‘ser feliz’ particular nunca teria fim. E o meu ar, seria uma leve melodia, simples, como dormir!