22/02/2011

Ela sempre esteve lá. [recorte IX].

Ela manda na sua própria vida mas deixa você escolher o cardápio do dia. Quando você diz que não gostou da roupa dela, ela lamenta e vai assim mesmo. Sua opinião, suas escolhas, seu jeito – não tente mudar. Sabe fazer lasanha, ponto-cruz e dengo. Alguns dias prefere champagne e música alta, outros prefere pizza e cobertor. Ela é uma surpresa, ela adora surpresas. É o tipo que diz preferir dar presentes do que receber, mas seu coração sempre se derrete com aquele laço vermelho na sacola da sua loja predileta. Adora jóias mas dá um imenso valor pra aquela flor que você fez com o guardanapo do restaurante ou aquela rosa que você comprou do tiozinho enquanto ela ia ao banheiro.



Todo mundo nota que ela é especial. Ele não nota, ele nunca notou. Ela sempre esteve lá. Mas até quando?

16/02/2011

Pra mais ninguém.

E eu volto pro mesmo lugar.
Como não?  Sempre volto, e você sabe disso!
Sentada, encolhida, recolhendo os pedaços da última tentativa de sair.
Volto a me esconder aqui, e permaneço.
No fundo escuro do labirinto, o mesmo de sempre, claro!
Cansada, de mais uma vez achar que estava chegando à saída.
Exausta de dar de cara com as paredes.
Lamentando a cada segundo por saber que todas as paredes são minhas.
Somente minhas. E de mais ninguém!
Eu as construí, e cerquei com milhares de camadas de concreto.
O concreto incrédulo, do medo que afasta tudo em volta.
Não é fácil sustentar uma luz - aquela do fim do túnel, sabe? - então, ela não existe!
Eu a inventei, e a sustentei com minhas próprias forças durante todo o tempo.
Como que forças? Pára de rir, eu to falando sério!
Sobrevivi até aqui, não foi?  Então pronto, a força é minha, e eu a chamo como bem entender.
Mas enfim. Eu criei, acendi, e sustentei essa luz até não poder mais.
E farei isso, quantas milhões de vezes achar que devo.
Até porque, a luz é minha também. E de mais ninguém!
Mas agora não!
Agora estou apagada, desligada novamente.
Sentada no canto, escondida, por tempo indeterminado. Acordada!
Pensando no que fazer, com a luz, com a dor, com o amor, com todo o resto que ficou.
Ah, claro que fica.. Sempre fica alguma coisa, às vezes coisas demais.
A diferença é que quando fica, fica só pra mim.
E pra mais ninguém!

04/02/2011

RECORTE VIII - Doidas e Santas.

“Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar ‘the big one’, aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais… Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo?
Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascinante.
Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Ultima Gota. Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só sendo louca de pedra.”

@Martha Medeiros