27/04/2010

Força do hábito.

Disponho de um pouco de discernimento agora.
Mas admito! Não é força de expressão quando eu falo ‘um pouco’. Também pudera, são 00:48 da manhã, o que você queria?
Mas a verdade é que eu falo de um modo geral. Vejo você agora como é! Não o que eu quero ver. E sinceramente? Não tenho tido o mínimo interesse em ver tudo isso!
São atrativos demais!
Qualidades demais!
Sorrisos demais!
Histórias demais!
Verdades demais!
Saltando pra fora, gritantes. Rasos demais!
É assim que eu vejo agora. O raso do que você fala.
A nobreza estonteante da sua razão, incontestavelmente perfeita!
Ela me irrita!
Entenda. Eu não estou sendo grosseira, apenas sincera.
Aliás, como sempre fui! Pelo menos com você.
Que apesar do ar superior, e da senhora segurança que eu me esforcei tanto pra admirar, nunca me assustou como aos outros.
O que me falta agora é a paciência de antes. Que não era muita, mas de qualquer forma me servia.
Para brincar de não suportar seu ímpeto e sua arrogância.
Pois isso agora ocorre de fato. Não brinco mais!
Mas ainda assim gosto de você. Acho até que admiro.
Afinal, você consegue conviver em paz consigo mesmo todos os dias e ainda não cometeu um suicídio!
Não ria. Falo sério!
Isso é pra quem tem muita força de vontade. E devo admitir que não disponho de nenhum pouco pra você.
Não é força de expressão, já disse.
Minha sinceridade é força do hábito!

26/04/2010

Fingir .

-

quero subterfúgios que me caibam, sem precisar mentir.
não preciso que me aceitem, ou me digam que estou certa.
por ter realizado grandes feitos.
só peço que respeitem, o meu espaço seja ele do tamanho que for.
pois é meu !
nele cabem todos os meus sonhos, meus planos, meus fracassos, frustrações, e realizações.
não sou mais menininha, mas tenho meus ataques.
não sou independente, bem resolvida e livre de crises existenciais.
tenho ataque de ciúmes, por mais que eles explodam somente no meu interior.
e ataquem única e exclusivamente a mim.
sou compulsiva, impaciente, egoísta, arrogante e prepotente.
falo demais, não penso antes de julgar o outro, e não aceito que discordem de mim.
não sei dar conselhos, muito menos sobre amores.
não sou aquela amiga a quem todos recorrem pra desabafar, porque sabem que o seu segredo está seguro.
não tenho cara de boazinha, e não gosto de me vestir de menininha.
não sou bonitinha, não sou legal, não sou educada, muito menos estudiosa.
tenho preguiça, falo palavrão, arroto alto e rio da cara das pessoas.
aponto defeitos, e não perdôo deslizes. não sinto pena ou compaixão.
sinto orgulho,  sim. agora mesmo estou orgulhosa.
pois acabei de citar os milhões de defeitos que tenho e reconhecê - los como meus.
milhões de pessoas naão têm essa capacidade !
você não, vê isso ?
mas é claro. só eu vejo assim, ao espelho.. quando tiro todo o oposto do que acabo de citar acima, e me olho por dentro
pareço perfeitamente normal com todos esses deefeitos.. os defeitos que todos têm, mas não conseguem esconder. muito menos enxergar.
quanto a mim ?
sou humana, e sei fingir. só isso !

24/04/2010

Tirando as medidas.

como vou dizer?
não sei se é muito, não sei se é pouco.
é diferente de todos.
e talvez seja mais que uns, e menos que outros.
o que acontece é que não lembro ao certo.
como eram os outros.  não sentindo, pelo menos.
porque já não os vivo agora.
porque agora, eu vivo você.
mas quanto é esse viver ?  sei lá.
é como a música da rita, a maria..
'muito pra mim é tão pouco, e pouco é um pouco demais.
viver tá me deixando louca, não sei mais do que sou capaz.
gritando pra não ficar rouca, em guerra, lutando por paz.
mas muito pra mim é tão pouco.  e pouco eu não quero mais!'
E se pouco eu não quero mais, você deve ser muito.
porque eu quero, e quero muito !
então posso tentar ver as coisas do meu jeito.
da forma prática:
o tempo que me toma falando,
o tempo que me toma escrevendo,
lendo, pensando, tentando racionalizar coisas que antes não faziam diferença.
querendo, ver, estar, sentir, ouvir, ter. enfim..
o tempo que me toma da noite, e do dia, é muito.
não faz idéia do quanto!
e se toma o meu tempo. toma por completo. o preenche.
não pela metade, em partes. mas o todo !
penso, então. do que gosta, ou não.
do quanto gosta. o que acharia, disso ou daquilo.
em como reagiria nessa, ou naquela situação.
penso se pensa, se fala, escreve, ouve e sente, como eu.
ou se o faz, mas tudo diferente.
penso em como é estranho, não saber o que se passa aí.
e o que se pensa aí.  agora !
se penso tanto, em tanta coisa, por tanto tempo.
acabo pelo meio disso tudo, pensando nos detalhes.
todos os detalhes. relevantes, ou não.
importantes, ou não.
são eles que me fazem perder tanto tempo, em dissecar, decifrar,
lembrar, sorrir, sozinha!
eles o tornam diferente. dele, daquele, e do outro.
todos aqueles que vc por sinal, já conhece !
único. sem medir, sem comparar.
até porque, comparar diferenças tão gritantes e tão nítidas,
seria injusto da minha parte, da nossa parte. de todas as partes!
mas enfim.  olha agora, quantas linhas eu gastei do meu tempo.
e mais !  olha quantas frases, palavras..
sem contar as zilhares de letras soltas e confusas, emboladas aqui.
todas pra você, por você.
tem noção do quanto é isso ?
consegue contar ? medir ? calcular ? pesar ?
acho que não !
não deve nem se preocupar em perceber os detalhes ridículos de cada letra.
mas acho também que no meio da confusão que vc fez eu me meter,
cheguei a uma conclusão que valha,
tanta coisa, tanto tempo, tanta letra, tanto detalhe passando na mente.
acredito que o meu gostar seja muito.
se não muito. o bastante.
pra não me preocupar em medir, ou tentar explicar, nem camuflar, esconder.
nem nada do tipo.
o bastante pra me fazer bem, só de ser o que é.
só por estar aqui. e o faz !
pois, que seja muito, ou não.
o tanto que eu aguentar.
o tanto que puder ocupar, dos dias, das noites, do todo !
assim, então.  o dia em que eu conseguir medir o tanto do bem,
que você faz pro meu dia, talvez eu volte aqui.
e diga, o quanto eu gosto de você!
mas enquanto isso.. continuo pensando..
e você ? o quanto gosta ?
e,  como vai dizer ?

23/04/2010

Só brincando.

Vamos brincar ?
Brincar de falar sério.
Brincar de querer,
Brincar de vontade.
Brincar de se entender, de se dar bem.
E ser bem.
Mas poderíamos não brincar, não poderíamos ?
E se fosse sério, como seria ?
Tanto faz. A gente se entende melhor brincando.
E brincamos.
De se conhecer, de se perguntar, de dizer verdades..
que ouvi por aí, 'não se dizem nem brincando'.
Brincamos de brigar, de gostar, de ter e ser.  e somos.
Somos brincadeira, e continuaremos a ser. Brincadeira !
Séria. - ou não -   tanto faz !
Brincar nos faz leves, nas coisas do dia - a - dia,
ou nas coisas de certos dias.
Mas e se eu brincar, então. com as palavras desse jeito.
vai parecer, sério ?  ou vai continuar brincadeira ?
e precisa, por acaso, parecer sério ?
ér,  tanto faz !
E se eu disser que não brinco mais ?
Que por algum motivo, quero ser séria. e fazer ser sério .
vai se importar ?
mas que motivo ?
sei lá !  nem me interessa saber.
Não quero explicar, senão perde a graça.
E a graça, é poder brincar de entrar na casa mal assombrada,
tendo permissão, ou não.
E ficar amigo dos fantasmas. Pra então sutilmente, convidá - los a se retirar.
e tomar seus lugares.
Mas isso é brincadeira que se faça ?  Não tem graça !  - ou tem ?
Ér,  talvez a graça esteja aí !
O tempo todo bem debaixo do seu nariz. Na brincadeira insignificante.. Inocente. - ou não !
Mas qual é , então a tal graça ?
Inverter os papeis, ou tomar cada um o seu lugar ?
Brincar de ser quente, ou só espantar o frio ?
Brincar de ser normal, ou ser só um arrepio ?
Brincar de ser sincero, ou ser coveniente ?
Brincar de ser sério, ou ser a graça constante ?
Ser um todo, qualquer. ou ser o detalhe importante ?
Não faço idéia !  E nem quero.
Só sei, que ser sério sempre,  é  CHATO ! muito chato !
E sem prediletos.
Mas, hein.  tava só brincando ! Não posso ? u_u
Claro que posso !  'Eu posso o que eu quiser !'
Até ver coelhos, se der vontade.  ou só formigas.  OO'
Derrubar os muros,
Arrancar verdades.
Se apossar da casa !
Mesmo que seja, só brincando ! 

Telhados, raios e nostalgia!

Agora a pouco me atentei pra algo em que raramente eu penso: ‘Um dia, por acaso - ou não - o raio, pode atingir o meu telhado!’ Isso foi idéia dele, não minha.
Isso mesmo que você ouviu. Ultimamente temos tido conversas assim. Você sabe, eu e o outro. Algumas conversas meio nostálgicas... Tá, ta, tudo bem, a maioria delas tem um ar de regressão e análises psicológicas do nosso passado. Mas tudo isso de forma muito saudável e principalmente, muito amigável. Eu diria até, muito ‘mimimi’ pro meu gosto.
Mas isso não importa agora.
No geral temos falado do dia – a – dia, das nossas rotinas, das pessoas e de como estamos uns aos outros, e os outros hoje. Às vezes acho essas conversas sentimentalistas demais, profundas demais e falsas demais. Mas isso é só às vezes. Porque na maior parte do tempo ele me parece muito sincero. Como sempre pareceu, aliás. Inclusive enquanto dissimulava me fazendo tão feliz. É, ele é um artista!
Mas isso não importa, agora.
Só queria te atualizar. Te contar que ele tem sido uma boa companhia, e tem me divertido um tanto. E se levarmos em conta a posição a que ele foi reduzido na minha vida, podemos até dizer que esse tanto tem se tornado bem significativo nas ultimas semanas.
Mas não! Não se iluda, é realmente só isso.
Não voltei a ter ‘borboletas no estômago’, ver coelhos na lua, muito menos ver brilhos que não estão mais onde eu costumava ver. Só tenho achado ele boa companhia, por enquanto. Nada além disso. Ponto!
Mas já falei que isso não importa agora!
Do que eu tava falando mesmo? Ah, sim. Dos telhados, meus e alheios.
É, pois ele me fez pensar nesse assunto, que poucas vezes ocupou meu tempo. E se uma pedra caísse na minha casa. E alguma coisa, daquelas coisas que só acontecem com o vizinho, sabe?
E se essa coisa acontecesse comigo?
Sinceramente? Não faço idéia, e nem sei também se quero mesmo pensar sobre isso. É só que me chamou atenção, essa possibilidade. Mas o que eu acho na verdade, é que sempre vai acontecer alguma coisa comigo, então acredito que estarei pronta, caso meu teto resolva desabar amanhã.
Até porque, minha casa já foi por tantas vezes, inundada, demolida, invadida, apedrejada, enfim. A diferença é que eu já terei meus alicerces fincados no chão, quando a próxima tempestade me atingir.
E o que me restará a fazer será catar as roupas do lado de fora, fechar as portas e janelas, me trancar no meu quarto, cobrir com meus lençóis os pés e a cabeça, e abraçada ao meu ursinho esperar o barulho dos raios diminuir. Até poder abrir as portas novamente!
Mas isso também não importa agora.
Porque o tempo aqui ainda é quente.
Faz um sol quase indecente e ainda não ouvi barulho algum no meu telhado!
Como se isso fosse importar agora, né ?

21/04/2010

Normais que somos !

Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.

“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.


Martha Medeiros

17/04/2010

Nem metade !

-
...Eu to ótima, e você?
É, eu sei. Andei sumida mesmo. Mas pára com esse drama, você sabe que não é de propósito, né ?
Tive coisas a fazer, muitas na verdade. E no fim não fiz nem metade.
Tive pessoas pra encontrar, que não me interessavam mais. Naão.eu juro!
Uhun, eu sei. Você nunca acredita.
Tive também, compromissos à cumprir, promessas à fazer, e sentimentos pra cuidar.
Não fiz nem metade de tudo isso !
E to bem, viu ? Mesmo!
Andei meio aérea nas últimas semanas.. Meio enjoada, sem sono, com dores,ou sono demais.
Achei que fosse pegar a tal virose, que tá na moda. Mas até nisso, eu sou fora de moda.
Não peguei !  Ah, pode rir.. Nem ela eu consegui pegar?  Ótimo !
Saiba que eu estou muito bem assim. Fazendo planos, e desejando muito.
Muita coisa ao mesmo tempo, sabe ?
Mas feliz,  ueé. 
Tenho até sonhado, viu ?  Não que eu ache isso MUITO bom.
Porque por causa desses sonhos eu acabo não dormindo muito. (quase nada,na verdade).
Alguns são bons, outros ótimos, outros horríveis.
Mas uma coisa eé certa. Todos,  sim,  TODOS me deixam perturbada.
Meio atortoada, sabe ?
Não to acostumada com isso.  É muito estranho, sonhar todos os dias, pô.
Estranho e desgastante. Como as pessoas conseguem ? Me diz ?
Ãaahn,  claro que eu senti a sua falta!
Mas não morri, tá vendo ? Nem você !
E amanhã, eu acho que eu apareço, e a gente conversa mais. - ou não.
Vai depender do meu humor.
Ele tem oscilado um pouco ultimamente. Mas eu gosto disso . De verdade !
Me faz pensar em todas as coisas que me cercam.
E em tudo o que eu tenho pela frente.. e não tenho a mínima vontade de levantar da cama.
Tá, eu sei. Meio dia, mas e daí ?
Tinha tanta coisa planejada pra aproveitar que não choveu nessa manhã.
E nem comecei.. Imagina se  fiz alguma metade !
Nem em sonho !

12/04/2010

Recortes de um Divã (PARTE II). - Terapia de Grupo.

Sou eu que começo? Não sei o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas e me sinto esquisita à beça usando um lencinho amarrado no pescoço. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina, ou pelo menos tentei: brinquei de boneca, tive medo do escuro, e fiquei nervosa com o primeiro beijo. Quem me vê caminhando na rua de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém sequer desconfia do meu hermafroditismo cerebral. Adoro massas cinzentas, mas também adoro cor – de – rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e um verdadeiro desastre na cozinha, apesar de ter melhorado um tantinho considerável. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos.
Nossa, pareço uma metralhadora disparando informações como se estivesse preenchendo um cadastro para arranjar marido. Ponha na conta da ansiedade. A propósito, não quero casar e quero menos ainda ter filhos.
Vivo cercada de pessoas, mas nunca somos nós mesmos na presença de testemunhas!
Às vezes me sinto uma mulher mascarada, como se desempenhasse um papel em sociedade só para se sentir integrada, fazendo parte do mundo. Outras vezes acho que não é nada disso, hospedo em mim uma natureza contestadora e aonde quer que eu vá ela está comigo, só que sou bem educada e não compro briga à toa. Enfim, parece tudo muito normal, mas há uma voz interna que anda me dizendo: ‘Você não pode esperar, colega. ’ É como se eu tivesse além de uma consciência oficial, também uma consciência paralela, e ela soubesse que não vou segurar minhas ambigüidades por muito tempo.Tenho um cérebro masculino, como lhe disse, mas isso não interfere na minha sexualidade, que é bem ortodoxa. Já o coração sempre foi gelatinoso, me deixa com as pernas frouxas diante de qualquer um que me convide para um vinho. Faz-me dizer tudo ao contrário que penso: nessas horas não sei onde vão parar minhas idéias viris. Afino a voz, uso cinta – liga, faço strip – tease. Basta me segurar pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva – se!
Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, fria, porém traída pela emoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada, romântica. Acho que sou promíscua, doutor Lopes. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também. Prepare – se para uma terapia de grupo!

@Martha Medeiros - Divã. (adaptado).

06/04/2010

Que graça ?

Suponho que entender você não seja assim, tão complicado. Mas só suponho.
Aceitá – lo é que é difícil!
Aceitar que ele, ao contrário do que me ensinaram, é completamente diferente de você.
Nos gostos, desgostos, no gostar.
No ver, ouvir, sentir, pensar, falar. Concordar, ou não.
Somos completamente diferentes. Eu falo de nós dois.
E quando percebermos isso deixaremos de entrar em conflitos inúteis, porque vemos as coisas por ângulos opostos, ou porque nossas opiniões divergem, sempre e muito !
Mas se assim não o fosse, que graça teria você, ou eu?
O convívio seria quieto, ou agitado em demasia.
Se fossemos mesmo ‘todos iguais, braços dados ou não’... De nada valeria conhecer ele, você, o de ontem, o do ano passado, ou o de amanhã. Porque já saberia o que encontraria.
E se não gostei de você, não gostaria mais de nenhum.
E olha, que graça teria você, se fosse exatamente igual a mim, e a todos os outros?
Imagine então, uma rua, em que todas as casas fossem idênticas.
Formas, cores, telhados, portas, e interior tudo igualzinho.
Que diferença faria, morar nessa, visitar aquela, admirar a outra, ou entrar para conhecer a de lá?
Que graça teria a minha casa pra você, se fosse completamente igual a sua por dentro?
Quando entendermos que eu não sou obrigada a te dar razão sempre, cada um vai conviver em paz com a sua razão, ou com várias delas, e se quiser, sem nenhuma razão. Exerceremos, então o respeito à verdade alheia.
E vamos achar as coisas diferentes umas das outras, e essa será a graça. A nossa graça, estando juntos ou não!
Mas entendamos então, que as verdades de cada um são incontestáveis, e ponto final.
Mas são incontestáveis só pro cada, ou só pro um.
E ninguém além de nós, tem nada com isso!
Ninguém é obrigado a aceitar como verdade tudo o que há no outro. Repito, tudo seria muito mais fácil se entendêssemos que somos completamente diferentes. E que não adianta esperar que ele, ou ela tome as mesmas atitudes que você, ou eu. Ou que devolva na mesma medida a sinceridade da qual você dispõe.
A reciprocidade é uma coisa minha, não dele, ou daquele outro. Talvez alguém mais a considere importante, mas entendam vocês, ou não isso nunca virá nas mesmas proporções. NUNCA!
E esse é o princípio de todas as frustrações – ou quase todas – achar que qualquer um à sua volta vá ter a balança regulada como a sua. E quando não tem, tentar ajustar, enquadrar, equilibrar as medidas e as prioridades dos outros de acordo com as suas.
É importante que entendam: Não, isso não funciona! Pelo menos pra mim.
O que talvez dê pra encaixar melhor é a tolerância e a consciência de que o seu espaço, termina onde o meu começa. Eu sei, eu sei, isso é bem clichê no estilo ‘ditado popular’. Mas se levássemos isso a sério, teríamos menos problemas de convivência e menos relacionamentos cairiam em ruínas depois de algumas opiniões divergentes. Não acham?
Não?! Tudo bem. Ninguém é obrigado a pensar como eu! Essa é a graça!

05/04/2010

Recortes de um Divã. (parte I)

'A loucura mora tão perto que sinto o cheiro do seu feijão. Bastaria tocar a campainha e ela me deixaria entrar, sentar no seu sofá, dormir na sua cama, ler o seu jornal.
Não acredito que haja apenas uma maneira de viver, com aventuras parcialmente aceitas e alguns excessos tolerados. Viajei pouco, confesso: o Ocidente é tudo o que conheço, uma sociedade padrão, em que todos sabem utilizar os talheres e dizer ‘obrigado’ em inglês. Como será uma sociedade tribal, nômade, xiita?
A utopia de um mundo sem regras, onde todos agissem pelo instinto, virou o playground dos meus neurônios. Cansei do normal, quero fugir do estabelecido, do programado, da claque que aplaude cada ato bem pensado. Lopes, como sair de um jogo em que você está ganhando, mas também está perdendo? O que você tanto anota neste bloquinho, hein?
O mais engraçado, ou trágico disso tudo é que quando esta consulta terminar eu vou sair daqui e vou passar na padaria, depois vou por gasolina no carro, e darei uns telefonemas quando chegar em casa. E vou ver televisão, jantar, botar o relógio pra despertar e dormir. E acordar no outro dia, escovar os dentes, vestir um casaco, trabalhar e conviver em sociedade com harmonia e educação, e ninguém perceberá a erupção que tento conter. Mulher, solteira, trabalhadora, estudante, um irmão pentelho, a música como hobby: você acredita nesses resumos?
E o nosso lado serial killer, Marylin Morone, Al Capone, Simone de Beauvoir, ku klux klan?
Para onde vai tudo o que a gente pensa e reprime, tudo o que a gente ouve e estoca, tudo o que a gente lê e compreende, tudo o que a gente vê e não toca?
Para onde vão as idéias que a gente consome e os sentimentos que nos envergonham? Vida interior! Nem mil anos bastariam para eu assimilar tudo o que sinto e acomodar toda essa trupe em mim.
Se você olhar para o relógio agora, vai ver que falta pouco mais de um minuto para eu ir embora. Você tem 60 segundos para reparar que estou com unhas feitas, o cabelo limpo, as pernas cruzadas e a bolsa combinando com o vestido. Meu tom de voz não está alterado. Minhas contas estão em dia. Meu carro está estacionado em local permitido. Meu olhar não está parado. Sei que dia é hoje e em que cidade estamos. Não há nada em mim que você possa usar para justificar uma internação. Lopes, que bando de artistas somos nós.'



(Martha Medeiros - Divã, pgs: 107/108. - modificada.)

01/04/2010

'Você nunca faz o que diz..'


'Você nunca faz o que diz'... exatamente assim, ele atacou. e então eu pensei:
'Eei, como assim ?'
Eu nunca digo.. ou pelo menos tento!
Justamente pra não ter que ouvir esse tipo de coisa, prefiro nunca dizer, nada. nunca!
Se tiver que ser feito, e mais.. se eu quiser fazer, eu vou lá e faço. ponto !
Muito simples, não ? 
Porque então ele me disse isso ? Se eu faço exatamente o oposto. - eu acho!
Por uma besteira, um detalhe.
Era uma conversa insignificante, como todas as outras. De todos os dias. 

O dia inteiro, tarde, noite, madrugada.
Nem lembro que horas eram.. só sei que era uma conversa de rotina.
Como as outras!
Alguma histórias alheias, ou nossas. 

Algumas opiniões sem importância, mas que ainda assim são indispensáveis..
Algumas brincadeiras antigas, ou novas.
Promessas, mais antigas ainda.. ou de ontem à tarde.
Cobranças, mas não aquelas cobranças inssuportáveis, de gente chata, que você resolve bloqueando, sabe ?
Dívidas que eu fiz por vontade própria. e com toda boa vontade !
Que eu quero, de verdade, pagar. e logo!  

Mas você sabe,  não sou tão bem provida de memória assim.
Até, tento.  Juro que tento. Mas sempre me escapa. E ele sabe !
E, acabou a conversa normalmente como todas as outras.. Mas isso, que ele disse no início, ficou !
E eu salvei, aqui ! 
Guardei a frase:  'você nunca faz o que diz'.
Que peso pode ter isso na vida de alguém?
Era de brincadeira, por besteira.  Mas eu pensei..
Imaginei alguém, que fala demais.. e nunca cumpre.
Fala de tudo, e não sabe de nada. . 

Reclama de tudo, e não faz nada por isso..
E por falar em reclamar, lembrei que tenho um problema.. eu reclamo demais !
Reclamo que não tenho o que fazer, quando tenho milhões de promessas pra cumprir.
E tento então, me lembrar com quem mais eu devo estar em falta, com besteiras como as dele.
E chego a conclusão que acho que é só com ele.  Mas eu só acho.
Não tenho como ter certeza, porque se tenho dívidas com mais alguém, não lembro agora !
E não lembrarei, até esse alguém vir me cobrar.. como ele faz todos os dias, rindo.
'você me explora demais!', eu devolvo.. mas agora vamos analisar:
'você nunca faz o que diz'.. então ele não tem como me explorar, porque eu não faço o que deveria fazer.
E rio disso. sim, são besteiras. todos os dias surgem novos compromissos.
Surgem e vão sendo adiados. até mais tarde, até amanhã, até semana que vem, até quando ?
E eu rio. claro, não tenho pressa.. nem ele !
Temos todos os dias, pra adiarmos, e rir !
Mas eu prometo, eu vou cumprir minha palavra. não sei quando, mas vou.
E olha,  já estou falando demais.. ficarei calada.
Pra ele não vir me dizer de novo. que eu não faço o que digo. 
Aliás,  que eu nunca faço o que digo, foi o que ele disse.  não posso esquecer do 'nunca'.
Ele grita, na 'acusação' ! Mas eu não me importo.. só rio !
Não o ignoro.. eu o vi, vi. e vejo presente na sua afirmação.
Mas deixo ele quieto. Não gosto de dizê - lo.
Na verdade, não gosto de dizer muita coisa.. e por isso, procuro calar.
Mas ainda assim.. hoje eu acordei ouvindo ele falar, em alto e bom som:
'você, nunca faz o que diz!'
Mas e daí ?  Isso faz diferença pra você ?
Ótimo, nem pra mim !