Com certeza você já deve ter visto uma dessas ou no seu trabalho, grupo  de amigos ou mesmo andando nas ruas. Talvez você até mesmo seja uma  dessas mulheres.  
É fácil reconhecer a mulher misteriosa. Ela jamais atende o celular  na sua frente. Se levanta e vai atender bem longe de você. E você não  sabe se ela está narrando alguma postura do Kama Sutra ou uma receita de  bolo de fubá da vovó. O toque do seu celular é discretíssimo e você nem  percebe que ela saiu de perto pra atender. Porque ela também é  discretíssima. 
Por que terminou o namoro da mulher misteriosa? Ela enjoou dele?  Levou um pé na bunda? O cara morreu? Ela ta sofrendo? Você nem sonha.  Ela não conta nem pro terapeuta. Aliás, você também jamais vai descobrir  se existe um terapeuta. 
Sua idade é entre 25 e 38 anos. Não dá pra saber só de olhar. Seu  rosto se desfaz em segundos. Talvez ela more nos Jardins. Pinheiros.  Veio de Curitiba. Ela é carioca? É ali por perto, você acha. Seu carro é  preto ou cinza, quase certeza. Ela gosta de música, porque vive de  I-pod. Mas o que será que ela escuta? Nada. você não sabe absolutamente  nada da mulher misteriosa. Quando você a encontra no banheiro, dá um  segundo e ela desapareceu. E você louca pra descobrir, ao menos, a marca  da sua pasta de dente. 
Numa mesa de bar com conversa animada ela se limita a sorrir. Numa  festa importante ela se limita a aparecer por minutos e desaparecer em  segundos. Em um show ela jamais canta as letras, rebola, comemora, fica  suada. Aliás, quem é que já encontrou ela em algum show? Ou em algum  lugar? Mas era ela, não era? 
Dizer seu nome em vão parece até um pecado. Ela nunca fala de  ninguém e muito menos dá assunto para alguém falar dela. Não se tem nada  a dizer dessa mulher. Mas, para desespero geral de todas as outras  mulheres, o mundo não tem outro assunto.  
Todos os homens desejam loucamente a mulher misteriosa. Todas as  mulheres desejam loucamente a mulher misteriosa. Sua personalidade  incerta acaba se tornando uma personalidade fortíssima e seu jeito  anulado acaba se tornando um espaço gigantesco para todos imaginarem o  que bem quiserem.  
E eu, como estava dizendo, sempre quis ser dessas mulheres  imperfuráveis, inatingíveis, inaudíveis e incompreensíveis. Mas nunca  consegui. Quando vou ver, já contei minha vida pra primeira pessoa que  me deu um pouco de atenção. Já to rindo alto no restaurante porque não  me controlei e fiquei feliz demais. Já escrevi um texto sobre o  fulaninho da terça passada e publiquei numa revista. E o fulaninho ta  morrendo de medo porque escrevi que gosto dele. E se alguém perguntar,  vou dizer mesmo que goste dele. E se ele não gostar de mim, minha  tristeza não será segredo para ninguém. E minha pasta de dente é para  deixar os dentes branquinhos. E quando vou ver, lá se foi a mulher  misteriosa que eu gostaria tanto de ser. Porque eu jamais poderia ser  uma. 
E sofri anos com isso. Até que resolvi conviver de perto com algumas  mulheres misteriosas para tentar descobrir o que se passa na cabeça e  na alma desses seres incríveis que nunca têm nada a dizer, a doer, a  aconselhar, a cantar, a dançar, a morrer de rir, a fofocar, a detalhar, a  exagerar, a sonhar, a dividir, a acrescentar. E descobri que a coisa  era muito mais simples do que eu imaginava: nada. Não se passa nada de  relevante nem na cabeça e nem na alma dessas mulheres.  
As mulheres misteriosas, tão admiradas e desejadas, não passam de  mulheres sem a menor graça. Elas não calam por mistério, charme ou  discrição. Calam porque simplesmente não há nada mais sábio que elas  possam fazer.
@ Tati Bernardi
 
POOOOOOOOOOXA!
ResponderExcluirEssa é minha diva, tati.
auehauehauehauhe
Já viu o último texto? É muito bom!
menina, vi siim viu ? *-*
ResponderExcluirmas eu tava pra postar esse aqui há séculos ! \z'