20/11/2010

Entre mundos e fundos de salas.


Sentada, riscando garranchos itálicos.
Mão no queixo, fone de ouvidos e pronto.  OFF!
Ela desliga tudo e todos que estão à sua volta.
São todos barulhentos demais, e por mais que o tempo passe não deixam de olha –  la com uma curiosidade um tanto indiscreta.
Um sorrisinho de canto, respira fundo e pronto!
Foram todos embora, e tudo resolvido!
Enquanto chama tanta atenção, nem parece estar lá. É apenas silêncio e cabeça baixa.
Os olhos grandes são cheios demais pra alguém tentar se aproximar e entender o que se passa, o que se pensa. E mesmo que tentassem, não teriam sucesso!
Ela se mantém com os olhos baixos, longe do alcance na maior parte do tempo, escreve segredos que fazem todos imaginarem milhões de coisas. – menos o que de fato ela escrevia.
Lendo, indo pra bem longe, ela viaja em histórias de amores, ódios, suspenses, horrores, não importa.. ela sempre viaja pra um lugar diferente. Sentada, quieta.
Submerge e se apega a cada detalhe, só pra fazer parte. Como um espectador invisível, sentado na mesa ao lado.. Parado no mesmo ponto.. uma mosquinha rondando a briga, o beijo, a fuga. Um pedestre que esbarra na rua, pede desculpas e segue.
Fazendo parte, do lado de fora!
Fecha o livro, pega a caneta e continua lá. Ausente do mundo, como se só a matéria descansasse ali.
As letras embolam, voltam atrás, ela ri sozinha e as reescreve todas de uma vez.
Agora constrói seu próprio caminho.. Viaja pra dentro.. no sonho, na realidade que fez parte, ou na vontade. Mas viaja. Tudo vale pra se manter longe daquela sala cheia de ruídos e de gente desinteressante, que volta em meia tiram a atenção do que realmente importa, o detalhe de um sorriso descrito milimetricamente.
Porque no meio de tanta gente, de tanta história e de tantos gritos histéricos.. ela é mais feliz entre histórias e garranchos itálicos!

Recorte V.



'Que bom é ser qualquer coisa,
assim, ao léu, uma pluma de vender,
um pensamento, um chapéu,
enfim ser, tão-somente isso,
ser apenas pelo meio,
sem um nome, 
sem um misto de ancoragem ou de enleio,
ser nada (não é possível)
ser tudo (mas é demais)
ser então o indefinível
nem tão pouco, nem tão demais'

(Armindo Trevisan)

12/11/2010

Recorte IV.

 
‘ Tudo parecia diferente agora. A mão cruel do destino, com um rápido golpe de pulso, acabara com o sonho.
Tudo desaparecera tão rápido. E era estranho pensar sobre isso agora. Tinha a sensação de ter caminhado por um longo tempo sobre a água de mares gelados, e quase se afogara. Mas estava começando a avançar outra vez, ainda congelada, ainda dormente, ferida, e marcada, mas achava que depois de tudo, talvez não se afogasse, de fato.
Havia agora uma chance mínima de que se salvaria.’

Danielle Steel - O RANCHO, Pg 169

06/11/2010

Estranhos.




Hoje eu sonhei com alguém de quem eu tava morrendo de saudade.
Sabe, quando você morre de saudade?
Agarrei-me ao sonho com tanto afinco que quase doeu quando tive que acordar.
Mas acordei, e usei de toda a minha força, pra me lembrar de quem eu sentia tanta falta.
Não consegui!
Só lembrei de ter corrido, no escuro, de mãos dadas.
Corria de alguém, eu acho. Como se aquele estranho estivesse tentando me proteger.
Sabe quando você sente que tá seguro com alguém?
Mesmo que só em sonho pude me sentir assim.
Mas isso não era o mais importante.
Uma agonia quase gritava.. era como se pudesse tocá - la.
À saudade, quero dizer. 
Uma angústia dominava cada minuto, enquanto eu pensava que tinha que acordar. Que era só um sonho.
Um sonho confuso, com um completo desconhecido!
Mas ainda assim doía só de pensar em acordar, e me afastar dele.. Então tentei voltar assim que despertei.
Fechei os olhos e respirei fundo. Afundei o rosto na escuridão que era a sua sombra, e tentei de todo jeito voltar ao mesmo lugar. Tentei correr junto, sentir a mão quente e o pulso firme que me puxava.. Tentei olhar mais uma vez a saudade, que me apertava ainda mais, depois de acordada. Tentei apenas cochilar pra fazê - lo voltar.
Pelo menos pra descobrir quem me fez sentir tanta dor.
Não consegui, é claro!
Só senti que estava em paz. Mesmo correndo, com medo, e com aquela saudade quase sufocante.
Era bom tê - lo ao meu lado. Mesmo sem fazer idéia de quem fosse!
Mesmo achando que ele era só.. éer.. Saudade!
Continuo com essa saudade. Continuo com a angústia, a sensação de sentir falta de alguém a quem não vejo, de fato.
Mas agora, tendo a certeza de estar acordada!