01/08/2010

Aprendendo a ler.

Ela só olhava. Não diria nada, nunca!
Nem precisava.. E ele tinha consciência disso.
Ele contava, em um discurso interminável, tudo o que havia vivido até então.
E ela só olhava. Olhava e ria.. Mas nada, nada, jamais diria!
Não podia se entregar, e se falasse algo, isso aconteceria com muita facilidade.
Se quisesse, ele que percebesse sozinho!
Era inevitável, a cara de boba, o sorriso fácil, e os suspiros disfarçados.
Mas só ele não via, era o único que não percebia.
A luz não era muita, e o lugar era de um ruído confuso, mas não muito alto. Porém qualquer um que olhasse com um pouco mais de atenção por apenas 2 segundos enxergaria!
Ela estava apaixonada!
E repito, era muito fácil perceber.
Mas porque, então ele não conseguia se dar conta?
‘Ele não é muito observador’. Ela dizia pra as amigas, como se achasse bom. Mas não precisava ser. Era mais do que óbvio. Pelo menos pra as outras pessoas.
Mas não é preciso entrar nesses méritos. Poucos observam a ponto de perceber o que se passa, tão de perto. Normalmente só se consegue ver coisas assim, quando se está de fora.
Imune à explosão de sentimentos e sensações, às dúvidas, e às expectativas que se confundem.
Porém, o que se via não era dúvida. Era como um ímã, os olhos dela nos lábios dele, enquanto falava.
E como ele falava!
Ela parecia incansável, hipnotizada!
Passaram alguns conhecidos, deram boa noite. Eles não os viram, de fato. Apenas acenaram.
E ele continuava a falar. Falar e sorrir. Ninguém se deu conta também.
Que ele ria, do sorriso dela, dos olhos dela. E via que quanto mais ela sorria, mais ele queria falar. E falava!
Ela dava toda atenção a ele, e ele adorava isso. Dava todo o seu sorriso, e ele gostava ainda mais. Ela era linda sorrindo! – como se não o fosse enquanto séria, ele pensava. – Mas não precisava falar, não queria também tocar nesse assunto. Não poderia falar tão sério agora. Ainda era cedo. Achava que a assustaria, assim como ele estava assustado com o que sentia.
Mas não tinha pressa. Ia ser paciente, e esperaria o tempo certo.
O tempo dela, ou dele.. Não sabia ao certo. Mas esperaria.
O necessário, pensou!
Enquanto ele devaneava, esqueceu de continuar falando, e só percebeu que parara quando viu que o sorriso havia sumido, e ela o fitava confusa.. esperando que ele continuasse.
Ele apenas sorriu, sorriu o mesmo sorriso que ela e se convenceu que sem maiores explicações, ele deveria dizer o que estava há horas se tornando um bolo enorme na sua garganta.
Ela perguntou, embaraçada e divertida ao mesmo tempo: ‘O que foi?’
Ele apenas sorriu, fez uma expressão de desdenho, como se não fosse nada importante, tocou os dedos na mão gelada dela e se concentrou como se fosse voltar ao assunto anterior.. ‘Eu amo você!’ Assim, tudo de uma só vez, rápido demais pra se arrepender e voltar atrás.
E ela? Fez o que ele mais queria.. Apenas sorriu, um sorriso que ele nunca havia visto.
Então se viu correspondido e reparou no sorriso que todos já haviam notado.
Ficou feliz então, por perceber que ela estava dizendo aquilo a noite inteira, pensando estar sendo discreta.
Afinal ela não falaria nada! Admitir? Nunca, jamais!
O amava, e tinha certeza disso. Mas jamais diria, não em voz alta.
Só não contava que ele uma hora ele fosse aprender a ler!
E leu!

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