28/12/2014

A chave.



A calma.
O languido passar dos dedos, e o suspiro silencioso, quase doloroso.
O olho ávido pela carne. A língua seca do desejo.
Menos força, menos impacto, menos imediato.
Por hora, senta aqui, e melhora!

Respira: 1,       2,      3...
Assim mesmo, lento.. se demora.
Sente o vento na pele, a água, o cheiro..
Sente e espere que eu explico, mas não agora.
Agora, só melhora!

Caetane-se, mas por inteiro.
Senta aqui, e sente o impacto da leveza.
Seja, mereça, queira.
Com a força polida da calma.
Com a calma urgente de um arrepiar.

Verbalize o arrepio num sopro gelado.
Arraste-se sobre a pele, e descubra.
Descubra o cadeado, a chave.
Descubra o caminho dos poros, dos pelos!
A chave, na calma, chega devagar.
Mas por hora, senta aqui, olha, e melhora!

09/08/2014

Sobre acertar os ponteiros:

















-

Cuidei, sorri, andei, amei.
Amei o ponteiro parado,  andei pelo quarto até cansar, sorri sozinha com a música certa, e cuidei de mim.
Pensei em fazer muita coisa, em te falar tantas outras, te chamar pra sentar e me ouvir cantar rouca.
Mas eu cantei alto, deitada de cara pro céu, fazendo tudo que eu quis, de olho fechado.
Com ponteiro parado!

Deitei no tempo e adulei um tanto pra ele ficar parado, do meu lado.
O dia se arrastou, e ele fez o que tinha que ser feito.

Parou, me olhou e passou.

Andou pro outro lado, pra eu não esquecer de acordar.
Correu de olho fechado, pra eu aprender a cuidar.
Cuidou do que ficou, e levou o que pesou. Lavou a cara!

Passou pro meu lado quando comecei a aprender.
A cuidar, sorrir, andar e amar.
Sem saber.

04/08/2014

25/07/2014

De tudo, no mundo.


Na casa de dentro, sou tudo.
A medida é o que cala, não o que fala.
O silêncio é o meu grito,
E tudo o que me inquieta é o barulho do seu olho, no silêncio de sempre.
A casa de fora, é todo mundo.
Tudo, no nada que vem junto.
Em espera, a calma descansa. Toma seu rumo.
O olho dispara no canto, o que não sabe esconder.
As cores são mornas, mas só na casa de fora.
Eu sendo tudo, você todo mundo.

21/06/2014

Agnosia



Como lhe parece, olhar e não ver?
Como pareceria, se tudo lhe entorpecesse os sentidos de uma só vez?
Como lhe seria, o simples olhar nos olhos, enquanto as mãos seguram-se com força?
Se num instante tudo se apagasse.
Se o chão lhe tomasse a face e o mundo em volta virasse um borrão.
Se você fosse obrigado a, de olhos fechados, reconhecer as pessoas pelo que elas o fazem sentir.
Se enganar-se não fosse apenas uma desculpa.
Se o seu pulsar pudesse se fazer sentir na ponta dos dedos.
E se nada, nem ninguém, pudesse lhe tomar cada segundo de suor derramado no escuro.
Mas ainda assim, fosse escuro. Como você me veria?
Não ouvir, não falar, não olhar, não parecer com nada.
É isso que somos.
Borrões, sentidos, olhares de agnosia.



08/06/2014

Da solidão.



-
Dos meus fantásticos fantasmas. 
De andar pela casa, pulando, cantando, dançando, rindo sozinha.
De seguir o ritmo da minha cabeça, da minha música, da minha solidão.
De parecer louca, só pra mim, dentro dos muros e dos portões.
De me ver de perto, no espelho limpo.
Nua e crua, descabelada e barulhenta.
De cada detalhe que me move.
Dos pequenos instantes de felicidade.
De cada minuto da música inesperada que diz tudo.
De pensar sobre tudo e sobre nada, com a água jorrando nos cabelos.
De pensar em você, e deixar pra lá.
De pensar em todo o resto, e deixar pra lá.
Porque eu to sozinha. E preciso aproveitar.
Porque um instante de felicidade completa é mais do que lugares cheios.
É mais do que qualquer coisa.
É mais do que qualquer pessoa.
É muito maior do que alguém possa entender.
Estar feliz comigo, apenas.
Sem roupa cara, de cara lavada, sem roupa, de cara.
Estar feliz com a espuma no cabelo,
Com a fumaça do incenso,
Com o barulho do vento,
Com o silêncio da casa vazia.
Sem gente, sem fala, sem beijo, sem nada!
Da solidão que me faz ver que um dia inteiro só pra mim, é o que basta.
Gosto.


-

02/06/2014

Nó.


-


Sujeito de si. 
Outros.
Caminho de mim.
Nós.
Linguagem de dois.
Nó.
Garganta fechada.
Peles e poros.
Gestos ligados.
Gosto.
Cabelo amassado.
Sem dó.
Dono do seu.

Silêncio.
Dúvida do meu.

Nó!

29/05/2014

Inspirando...

...
Os sons e os ruídos da mente de tanto silêncio. 
Dançando na cara da minha mania. Dar voltas, é o que eu sei fazer. 
Inspiro, expiro, suspiro calada! 
Dou voltas com os dedos, com os olhos, com a boca, com os nervos! 
Volto o cabelo pro vento que vai dando voltas aqui e ali. E vou indo. 
Quase solta, quase tonta, quase quase! 
O canto da boca sorri, e a palavra não sai. O canto não sai. O quase não sai. 
Suspiro e dou voltas no tempo. Hora de um, hora de outro vento. 
Um vento que é letra, outro melodia. 
Um pouco fala, o outro não para. 
Um que é acorde, o outro poesia.
Um me inquieta, outro me invade. 
Um marca a pele, o outro a palavra. 
Um chega cedo, outro já vem tarde. 
Um suspirou em uníssono.
O outro quase! 

09/05/2014

Das prioridades.



De andar com a cara pra cima, com o pé descalço, e de dançar fazendo careta como se a música fosse invadindo, preenchendo e você tivesse a ponto de explodir.
De gargalhar alto, mesmo que sinta que todo mundo te olha.
De sentir leve, solto e tonto.. Tudo que te toca como fosse brisa.
Da inspiração de onde não se espera.
De beijos e olhos sorrindo. De sentidos aguçados.
De calma. De música alta. De calma. De cama.
De entrelinhas, de paradoxos, de detalhes sórdidos que te prendem por sua própria vontade.
De ter vontade e respeitá – la.
De andar como quiser, e ser o que e pra quem quiser.
Do que me apetece, mesmo que por um instante.
Faço questão!

27/04/2014

Do desassossego.




Desarma - me, inquieta - me, provoca - me. 
Acende!
Futuca essa pulga, com a língua afiada, atrás da orelha gelada.
Destrói as respostas prontas e preguiçosas. 
Aguça - me, irrita - me, enfrente - me. 
De frente! 
Rebate o que eu digo, no peito aberto. Estilhaça minha frase seca e molha o céu da boca, com interrogações em interrogatórios eternos. 
Descontenta - se, inquieta - se, lança - se. 
Quer mais do meu barulho anunciado. Não se conforma com a existência inútil de uma mente inquieta só por dentro. 
Quer me ver confusa, barulhenta, e quer mais. 
Quero confundi - lo, grita - lo, e quero mais que isso! 

16/04/2014

Do encontro.

Não me cerco, não me acalmo.
Ilhada, no mar das geleiras em constante certeza.
Inconstante soluço, de dias seguidos. Seguindo o absurdo, de mais do mesmo.
Não me acalmo, desacelero.
Respiro fundo. E te observo ser por dentro um pouco de mim, viva.
Olho de longe esse movimento inconstante, fluido.. e desconserto.
Mas relevo, equilíbrio não me cabe. Nunca soube ser concreto.
Finjo amar as amarras da minha corrente aos pés da cadeira, mas é mais do que amarrar a certeza de não cair. O que me contém, e contradiz.
É pecado, é segredo, é desejo.
Do inacabado que me acomoda, do querer ser que apavora, da melancolia que vai embora na fumaça do quarto fechado.
Da mistura que eu faço com os ouvidos, e seu sopro de riso fácil.
Não me prendo, não concentro.
Apreendo, e não me cerco.
Deixo o canto do riso calmo, o olho fundo, e vou embora.
A calmaria, ainda que no silêncio, não me cabe. Não me veste!
O silêncio é só na boca!