30/05/2010

Um 'ser feliz', por fazer bem.

Ontem, eu fui dormir e acabei demorando mais tempo do que o planejado pensando em como fazer, como escrever, ou por que. E acabei também, percebendo que eu não tinha planejado nada. Nem poderia!
Além disso, me dei conta que não sabia o que ia dizer.
Então me veio à cabeça, uma frase que tem tido um significado diferente pra mim, há um tempo e que talvez explique mais do que se eu escrevesse um livro com milhares de páginas:
‘ Fazer bem é recíproco! ‘
É! Uma menininha qualquer que acha que sabe alguma coisa da vida, vive dizendo isso, e às vezes chego a acreditar que ela vive isso de verdade. Mas como?
A resposta demorou um pouco. Mas considerei algumas possibilidades. Besteiras, talvez.
Mas são as minhas possibilidades no momento.
E eu as escolhi como verdades agora, sem me importar muito se amanhã elas irão ruir, ou tornar - se sólidas.
Considerei, que o fazer bem que realmente importa, é o que não tem hora pra surtir os seus efeitos. Sejam eles de naturezas distintas, e tão absurdas quanto contraditórias. Ou sejam os de sempre, aqueles aos quais chamamos normais. Que são absorvidos e considerados ideais para construir o ‘ser feliz de cada dia ’, mas isso é outra teoria, e eu volto a falar depois.
Entendo, então, que o fazer bem ao qual quero me referir agora, é aquele fazer bem do dia - a - dia, de saudade, de ansiedade, de sorrir, brincar sério - ou não -, implicar, provocar, pirraçar, aproveitar. Ser frio por dentro - embrulhando tudo - ou ser quente e intenso por todos os lados!
É o bem de aproveitar algumas poucas horas, ou de aproveitar os seus efeitos colaterais, por dias, e dias.
Dias que não são mais como os outros. Não são! Nem de longe, dias comuns. Mas pra quem me olha do outro lado da rua. São dias quietos, discretos - ou não -.
Mas então, o que você acha de ganhar de presente um kit de ‘ser feliz’?
Um kit válido por quantos dias você conseguir levar. Só depende de você!
Não entendeu? Eu imaginei!
Então, pense comigo: O ‘ser feliz’ a que me refiro, é outra teoria daquela menina.. a que se acha! E sim, ela é mesmo uma menina, que sonha ter um ‘ser feliz’ sem fazer muito esforço.
Mas deixa ela pra lá, agora! Porque de um jeito ou de outro, ela constrói o ser feliz dela desse jeito. E dá certo!
Ela me explicou, que o ‘ser feliz’ é algo que cativamos, todos os dias. E que nunca, entenda: Nunca seremos felizes como seriamos hoje, se deixarmos passar o que nos proporcionará isso. As chances são únicas, e os resultados são imediatos. A felicidade como promessa pra um futuro tranqüilo, sem maiores movimentações, sem problemas a resolver, sem obstáculos a superar, sem nada a que temer, isso é utopia. E das piores! – Segundo ela. – E eu acabo concordando. No fim, ela tem razão!
Pensa em como seria a sua vida, numa rede, ou numa cama, sem nada pra se preocupar, sem etapas a superar, sem objetivos maiores, sem deveres a cumprir, sem nada mais a realizar, muito menos a fazer por si, e pelo outro. Por quem ama. Ou não ter a quem amar. Pensou?
Sentiu a mesma angústia que eu?
Pois é! Como seria o dia, a rotina, se não tivéssemos nada a fazer, não tivéssemos um propósito? Seria parada, quieta e tranqüila, tão tranqüila que chega a sufocar, pelo menos à mim!
Seriamos quietos, não felizes!
Felizes ficamos por cada realização, cada êxito, cada obstáculo ultrapassado com a verdade da sua vontade de ser feliz e de fazer bem! E faz! Só por existir uma vontade, você já sai em busca de algo. Tem um propósito.
Entenda, então, que só você pode fazer o que precisa ser feito pra hoje.
Só você pode garantir que quando for dormir, vai pensar: Hoje eu fui feliz!
E melhor ainda, é deitar e pensar.. Hoje eu fui feliz, fui o bem, e amanhã serei de novo!
Acho que me sinto assim, agora.. indo deitar e pensando que quero continuar tendo e sendo bem, do meu jeito, ou do seu. Mas um bem recíproco e uma felicidade repetida, e simples. Muito simples !
Tenho hoje, a vontade de ser bem, e a certeza de que o sentimento é único, construído em pedra sólida e firme, que não voa, não cai, não há sopro que faça desabar!
Desejo hoje, que não perca seu sono com problemas. Que não perca seus dias tentando soluções mais fáceis. Que não perca o sorriso, o olhar, o falar, o tocar, o sentir. Que não perca o ‘estar’. E esteja perto, sempre por perto!
Desejo que ame, que cante, que chore, que dance. Com toda a sua verdade ! Repito: A sua verdade!
Porque um poeta quase desconhecido disse lá na Bahia: ‘..um dia dance do jeito que você quiser, porque as pessoas que dançam com verdade, são pessoas muito mais felizes..’
E desejo mais. Desejo que seja a música, o tom, o toque, a cor!
Que mesmo que eu feche os olhos, consiga sentir.
Que mesmo que passe o tempo, consiga ver.. E não deixe o tempo passar sem que o tenha aproveitado com verdade!
Enfim, agora eu vou terminar de acordar.. e fazer alguns planos pro meu dia.. porque só tenho 24 horas, e um ‘ser feliz’ pra conquistar!

* Texto pedido por Tayná Côrtes !

29/05/2010

Meninas e bonecas.

Ontem eu sentei na calçada da frente, e fiquei olhando duas meninas brincarem.
Elas brincavam com bonecas, e como bonecas. Suas bonecas falavam, brigavam, discutiam.
Disputavam o título de mais bonita.
As meninas não! As meninas riam.
Elas apenas tinham o poder de decidir pela vida das tais bonequinhas. E no dia seguinte, esquecê - las jogadas no cesto de brinquedos, porque haveriam bonecas novas, e mais bonitas.
Eu tive bonecas.
Brincava com elas, mas não era seu Deus.
Não via a graça daquelas vidas que existiam apenas pra mim, por mim. E por brincadeira!
Então as matava. Mutilava, e jogava no canto. Não, não acho que eu tenha sido cruel. Não com elas.
Brincar por brincar, brincava com a minha própria vida.
Aí sim, me divertia muito! De verdade!
E quer saber?
Se eu quisesse ter uma filha, e tivesse o poder de influenciar nas suas brincadeiras, não pensaria duas vezes: A encheria de bonecas!
Mas pregaria todas na parede do seu quarto. Sem vida, sem graça. Como são de fato!
Assim, a minha filha saberia como brincar com a vida, sem precisar fingir ser uma bonequinha de verdade.
E, além disso. Eu acho tão lindo um quarto cheio de bonecas, todas paradas na parede!
E já pensou num quarto cheio de meninas? Meninas de verdade?
É, fiquei confusa. Mas acho mesmo que prefiro as bonecas!
Não entendeu, né? Eu sei. Mas afinal, já ouviu alguém dizer que entende meninas?
Não? Nem eu !

28/05/2010

Visceral .

Eu nunca fui uma moça bem-comportada. Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida,pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal resolvido sem soluços. Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo.Não estou aqui pra que gostem de mim.Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho.E pra seduzir somente o que me acrescenta. Adoro a poesia e gosto de descascá-la até a fratura exposta da palavra. A palavra é meu inferno e minha paz. Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que me deixa exausta. Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo. Sei chorar toda encolhida abraçando as pernas. Por isso, não me venha com meios-termos,com mais ou menos ou qualquer coisa.Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar... Eu acredito é em suspiros,mãos massageando o peito ofegante de saudades intermináveis,em alegrias explosivas, em olhares faiscantes,em sorrisos com os olhos, em abraços que trazem pra vida da gente. Acredito em coisas sinceramente compartilhadas. Em gente que fala tocando no outro, de alguma forma,no toque mesmo, na voz, ou no conteúdo. Eu acredito em profundidades. E tenho medo de altura, mas não evito meus abismos. São eles que me dão a dimensão do que sou.

15/05/2010

Como música.

Falo do abraço como falo da música.
Aliás! O abraço por si, fala.
Falo do abraço que transfere o sentimento de um corpo pro outro, por menor que seja sua duração.
Não quero sair pela rua abraçando a todos. Nem tenho vontade de distribuir abraços calorosos a todos que vêm me ver. Tenha certeza!
Não abraço se não quero de verdade, pois não há nada pior que aquele abraço de ‘tapinha nas costas’ que você dá, quando um conhecido qualquer vem te abraçar.
Aaah, não negue. Eu sei que você já o fez. Todos já fizeram ao menos uma vez!
Deixo claro agora! Se algum dia eu tiver a chance de te abraçar de verdade, e decidir por te abraçar ‘meio de ladinho’, fique sabendo que não te abracei, apenas te dei um aperto de mão, pois sou educada! E muito, acredite!
Mas ora! Todos fazem isso. Só não admitem. Ou estão acostumados a tal ponto, que não se dão conta que não abraçam mais de verdade, se é que já o fizeram um dia.
Pois eu não!
Sou viciada em abraços. Mas repito: Só quando eu tenho vontade de verdade!
De dar aquele abraço, que aperto os braços em cheio, pressiono os dedos nas costas, como se isso me fizesse ficar ainda mais perto. Sorrio, fecho os olhos e afundo minha cabeça no ombro. Transfiro tudo o que eu tenho de melhor em fração de segundos. Tudo o que as milhares de palavras que eu não sei falar deixariam escapar, escorrer.
Eu deixo nítido nesses poucos segundos, no silêncio do meu toque.
Firme, palpável, real!

Aposto que você nunca tinha prestado atenção em quanta coisa acontece nos 5 segundos em que eu te abraço, e no tanto de coisas que eu digo nesse intervalo de tempo.
Vamos admita! Ninguém presta atenção, que eu sei!
Pois eu sou feliz por ter essa capacidade. E da próxima vez em que eu te abraçar, lembre – se que eu estou te revelando isso hoje, e tente retribuir de forma ao menos parecida.
Verá que eu falo sério, agora!
Que falei mais do que você pôde imaginar, durante aqueles míseros 5 segundos, no meio da rua, do barulho dos carros, das buzinas, dos gritos. Enquanto te abraçava em tão pouco tempo, falei mais do que teria dito em anos de conversas.
Porque eu falo, agora... do abraço de verdade!
Falo do abraço que não cala, não omite!
Falo do abraço que foi seu. Mas que já foi embora!
Então, só tente abraçar dessa forma, uma única vez e uma única pessoa.
Mas com verdade!
Eu tenho certeza, que nunca mais perderá seu tempo, distribuindo abraços e sorrisos de mentira.
E vai entender o porque, de amanhã eu não querer te abraçar por inteiro.
Mas ainda entenderá o fato de apesar de tudo, estarmos felizes assim.
Porque, por menor que tenha sido o tempo do abraço. Foi um abraço de verdade.
Que falou, mas agora cala.
Como música, do disco passado!
 

13/05/2010

Recorte.

    Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.
     Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar!


@ Martha Medeiros.

11/05/2010

Tempo e leveza.

Oi, demorei pra voltar? Sentiu mesmo ?
Aaaaahn, não brinca!
É, eu sei que sim. Mas sabe o que é? Meus dias têm sido de uma movimentação meio diferente.
Tenho estado cansada, mas feliz. Acredite!
Sim, me sinto meio leve, meio cheia demais, meio quente, meio fria, meio sozinha, meio atordoada com tanta gente.
Mas no fim das contas, eu sinto que na verdade falta - me apenas uma coisa:
Tempo!
Isso mesmo! Tempo pra decidir como me sinto com tanta coisa preenchendo, não pelo meio como lhe parece. Sim, percebo pela sua expressão que está pensando assim.
Mas tenho algo preenchendo por completo meus dias. E acredite! Não faço idéia do que seja.
Muito menos o que fazer com isso tudo aqui dentro!
O que você acha? Sei lá? Como assim 'sei lá'? Não tem nada a dizer?
Claro, eu sei que tenho essa mesma resposta às suas incansáveis perguntas.
Mas entenda.. São incansáveis apenas pra você!
Mas não me leve a mal! Perguntas me cansam vindas de qualquer pessoa!
Pois dessa vez eu te digo o que eu acho!
Eu acho que tenho começado a me cansar dessa rotina paradinha, apenas porque os últimos dias têm movimentado meus ânimos numa freqüência e inconstância incomum.
E, quer saber. Estou adorando!
Exatamente isso! Não faça essa cara, oras!
Não, não tenho cometido crimes, não tenho saído com ninguém, - nem muitos nem poucos - não tenho feito escândalos, nem falado palavrões em excesso.
Só tenho me divertido, e me permitido!
Sem porres, sem pancadas, sem estresses, desnecessários.
Apenas com o que eu tenho de vontade de estar leve, mesmo tão cheia!

05/05/2010

Linguagens. (I)

-
Não sou explícita!
O fato de eu não demonstrar claramente, não quer dizer que eu não sinta.
Porque você faz tanta questão de ouvir tanta coisa, quando o melhor seria ouvir o silêncio?
Com o passear vagaroso dos meus olhos, capturo o que há de real na sua voz.
Vejo o brilho nos olhos, e consigo interpreta - lo. As mãos tremem, suam, gelam.
E não me refiro apenas às suas mãos.. olhos, bocas, vozes, cheiros.
Paro! Num salto!
E me vejo bem distante do que era há apenas dois segundos.
Sim, falo do mesmo sentir que você. Só tenho sensibilidade diferente.
Vejo você esperando ouvir sempre mais, pela ansiedade dos seus olhos.
Quando você deveria ver pela minha voz, que o que eu calo é tão ou mais profundo e mais verdade, do que as besteiras tão importantes, que eu tento dizer gaguejando.
Porque é tão difícil entender o que o silêncio mostra? Ele é tão claro, pelo menos pra mim.
Como letras impressas. Isso!
Eu leio o silêncio. Gestos, intenções. De nada me serve o som, quando é mudo.
Vago, sem fundamento, ou sentimento.
Eu sei, é muita pretensão achar que consigo diferenciar cada sorriso seu.
Mas não se engane, eu repito: Não me refiro apenas ao seu sorriso!
Ou aos vários que me perseguem durante o resto do tempo. Aquele tempo em que eu deveria me dedicar aos meus afazeres, às outras pessoas, aos outros sorrisos, gestos, gostos, outros sentimentos, e ainda assim repletos de barulho.
Ficando cada vez mais difícil entender do que se trata.. E se trata de verdade, ou só faz zoada!
Mas ouça. Preste bem atenção!
Não vou falar o que lhe convém, ou o que me parece justo.
Não deixo claro pela minha voz. Até porque ela nunca é clara.
Não ria, é verdade. Sempre que falo ouço a mesma resposta:
‘Ãhn?’

03/05/2010

Perfumes.

-

Nunca pedi flores, frases de amor, ou promessas de 'felizes para sempre'...

Que sentido tudo isso tem?

Verdades têm que ser ditas e expressas..

Não enroladas em um bouquet de rosas cheio de perfumes e amores falsos.

O cheiro exala, e some.

As flores secam e morrem.

Você decide voltar atrás com as suas palavras,

E de que valerá, cada lágrima que talvez eu disponha amanhã pra você?

Uma rosa para cada lagrima é isso que me trás hoje?

Não, não estou sendo amarga, nem grosseira apenas realista.

As suas flores são lindas, eu juro. Qualquer uma amoleceria o coração. Mas não eu!

Eu me importo mais com aquele encontrão que nossos olhos deram ontem,

Fazendo um barulho insano o resto do dia na minha cabeça.

Do que com uma serenata que acorde a todos os vizinhos.

Você não entende? Falar sobre amor é tão fácil quanto clichê.

Eu falo de algo que vai além.

Falo da verdade que você insiste em fantasiar com esse perfume que preenche a minha sala.

Mas não a mim. Só a sala, a casa, os cômodos.



@ Bianca Rosenvelt & Lena Reimão.

01/05/2010

Sol e sonhos.

Hoje eu acordei meio atordoada, com mais uma noite de sonhos que faziam muito barulho e me levantavam num pulo.
Saí às 7h da confusão que se encontrava a minha cama, e fui sentar na varanda com o urso, e um copo de suco.
Percebi que eu tava com saudade do sol de bem cedinho que há alguns meses era o meu despertador, num banquinho de cimento duro, que machucava as minhas costas. Mas se quer saber, eu nem sentia. O sol valia o sacrifício!
‘Meu Deus, como eu pude esquecer de algo tão bom quanto sentir aquele sol na minha pele?’
Era o que eu pensava. E acredite, eu não conseguia pensar em muito além disso até então!
Coloquei meu urso no piso frio, deitei a cabeça e encarei o Sol por dois segundos. Bem de frente, e ele quase me queimou as pupilas!
Então fechei os olhos e comecei a pensar um pouco mais.
Pensei em tanta coisa que nem consigo mais lembrar metade.
Mas lembro que pensei nos ‘e se’ de hoje:
‘E se eu tivesse feito ontem?’
‘E se eu fizer hoje, ou amanhã?’
‘E se eu tivesse dito?’
‘E se eu tivesse pensado antes de dizer?’
‘E se eu tivesse pensado no que fazer?’
‘Mas e se eu fizesse sem pensar?’
‘E se eu sofresse depois?’
‘E se ele sofresse mais?’
‘E se eu não sofresse tanto?’
‘E se eu deixasse em paz?’
‘E se me deixassem em paz?’
‘E se eu não ouvisse demais?’
‘E se eu ficasse parada?’
‘E se eu ficasse mais?’
‘E se eu ficasse louca?’
‘Se eu gritasse até ficar rouca?’
‘E se eu não me importasse com isso?’
‘E se não sonhasse tanto?’
Então, com os olhos queimando minha pele, os olhos, o peito, num salto.
Pensei só mais um pouco e me fiz a pergunta mais importante:
‘E se eu abrisse os olhos, levantasse da cama, e fosse ver de perto o que tem atrás do muro, em vez de perder o sol da manhã inteira aqui sonhando?’
Bem, desisti de tantas perguntas.
Terminei meu suco, guardei meu urso, e decidi que a partir de amanhã meu horário de acordar será às 8h no máximo. E eu terei um compromisso com o Sol.
Mas não se engane. Falo do meu sol, que andou meio distraído, brincando entre nuvens que felizmente sumiram depois das ultimas tempestades, só pra ele voltar a me acordar.
Mesmo que só em sonhos barulhentos!