18/08/2010

Recorte II.

A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui, parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota.
Dama da noite, todos me chamam e nem sabem que durmo o dia inteiro.
E acontece que eu ainda sou babaca, pateta e ridícula o suficiente para estar procurando ‘O Verdadeiro Amor’.
Para de rir, senão te jogo já este copo na cara!
Pago o copo, a bebida. Pago o estrago e até o bar, se ficar a fim de quebrar tudo! Todo machinho da sua idade, tem loucura por dar o rabo, meu bem. Ascendente câncer, eu sei: cara de lua, bunda gordinha e cu aceso.
Você não viu nada, você nem viu o amor!
Que idade você tem, 20? Tem cara de 12. Já nasceu de camisinha em punho, morrendo de medo de pegar AIDS.
Já viu gente morta, baby? É feio, baby. A morte é muito feia, muito suja, muito triste.
Queria eu ser assim, delicada e poderosa para te conceder a vida eterna. Eu cansei. Já não estou mais na idade. Quantos? Ah, você não vai acreditar, esquece!
O que importa é que você entra por um ouvido meu e sai pelo outro, sabia?
Você não fica, você não marca. Eu sei que fico em você, eu sei q marco você.
Tá tudo bem, é assim que as coisas são: ca-pi-ta-lis-tas, em letras góticas de neon.
Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada.



@ Caio Fernando Abreu

Um comentário:

  1. Um dos textos mais fortes deo Caio. O caio em outra face e uma face extremamente forte. bem crua como ele mesmo!

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